segunda-feira, 25 de julho de 2016

Sorriso bobo

Pelo título já é possível imaginar o sorriso largo com que escrevo nesse final de tarde... A segunda é um dia odiada a nível internacional, e assim como a raposa fica contente desde as 3h da tarde porque o Pequeno Príncipe vai vir às 4h, também os brasileiros já entristecem pelo primeiro dia da semana desde que a mesma começa a uivar por entre as vinhetas do Fantático, na noite de domingo. Mas não pra mim, e não hoje, especialmente. 

Qualquer pessoa que me conheça ou que já tenha lido mais de 2 postagens aqui sabe dizer que eu adoro reclamar, até quando está bom eu reclamo, é mais uma diversão do que incômodo mesmo. Então eu posso dar a impressão de estar sempre de mal humor ou pior, de não estar feliz. Claro, as vezes estou realmente bem infeliz e com péssimo humor, mas na maior parte das vezes não. Na verdade, a maior parte do tempo só estou num estado intermediário de interesse na vida que eu costumo chamar de "Sei lá". E é assim que eu estou a maior parte do tempo, sei lá.

No entanto, algumas vezes isso muda lentamente e eu acabo indo me sentar num dos cantos extremos desses octógono sentimental que é a vida de uma pessoa regida pelos hormônios, vulgo homem. E como é bom ocupar o canto iluminado pela doce luz do sol pra variar. Bom estar tranquilo, e olhar pela janela e não enxergar uma cena triste, mas contemplar a doce paisagem do dia enquanto a forte claridade se reflete no verde das folhas e dá alegria ás cores das flores. O canto dos pássaros ao longe e a brisa delicada que bate na janela se encarregam da trilha sonora desse momento, através de uma delicada sonata da natureza.

O motivo dessa poesia toda em plena segunda, quando todos estão fartos de seus chefes e tendo de conciliar as responsabilidades do trabalho com a ressaca do fim de semana? Bom, as surpresas que a vida nos reserva tem esse brilho especial e essa capacidade de nos fazer rir e ver a vida com um tom mais cor de rosa. Como eu não gosto de rosa, o tom que eu to vendo é verde fluorescente, porque sim. 

O destino tem dessas coisas. Por vezes nos permite entrar por beco escuros e caminhar por estradas tristes e cinzas, mas quando menos esperamos, sentimos o brilho das cores bem à nossa frente. Esses momentos nos fazem acreditar novamente na esperança e fazem a vida valer a pena. Como sempre digo, não é necessário muita coisa pra fazer de um dia um grande dia, mas apenas um sorriso sincero e uma companhia pra uma boa conversa por entre alguns quarteirões já fazem valer a pena de viver. 

Engraçado notar como então se pinta à nossa frente o quadro de nossas vidas. Mesmo que as tintas sejam de tons escuros e tristes, basta que um outro artista nos apoie com sua opinião pra vermos que a tela monótona e deprimente se transforma num quadro claro e cheio de vida, capaz de aquecer o coração dos que o observam. E essa é exatamente o poder que adquirimos ao assumir essa felicidade. Qualquer um que nos observe é também contagiado por esse sentimento puro e também pode passar adiante essa felicidade. Muito interessante notar como as melhores coisas da vida não foram feitas para serem apreciadas sozinhas. Até mesmo dormir é mais prezeroso ao lado de quem se ama, que e poderá dizer então de outros prazeres que a vida nos oferece.

O inesperado se desabrocha então à nossa frente como uma bela rosa vermelha, que bem cuidada, se manterá com sua beleza radiante e quando se for, apenas o fará para abrir espaço para que outras rosas, ainda mais belas que ela, se abram em seu lugar. E então até mesmo eu, que até poucos dias caminhava por um beco sem luz e ra oprimido por suas paredes altas e frias, agora desfruto da bela visão desse jardim. E partindo então desse jardim, passo a contemplar novamente também a visão que tive na última madrugada, enquando ouvi música e conversava, tendo no rosto o sorriso mais bobo de todos.

Estava numa praia, e por ser minha única referência, me remeti à viagem que fiz até Maceió, anos atrás. E nessa praia, era noite, importante ressaltar, eu podia contemplar a grandeza da beleza da natureza. Ver o mar pela primeira vez é emocionante e eu fiquei tão empolgado que ficava saindo do hotel de madrugada pra olhar essa visão tão espantosa. E lá eu fiquei, andando pela orla, com os pés ora dentro da água, ora apenas pisando sob a areia quentinha, aquecida pela água morna da noite. E a visão era sublime pra todos os sentidos. A espuma da água fazia carinho nas minhas pernas, meus olhos contemplavam a luz dos prédios se refletirem no mar em contraste com o brilho da brilhante lua que reinava gloriosa nos pés. Podia ouvir musica calma aqui e ali, aquelas típicas de estabelecimentos noturnos mais familiares e românticos, MPB em sua maioria. Sentia também a brisa fresca do mar tocar meus cabelos e fazer cócegas no meu nariz. Já tinha mes esquecido dessa visão, que adormecera na minha mente, ofuscada pelo tempo que se passou. Me lembro agora o quanto eu desejei ter aquela visão pra sempre. Poder viver ali e contemplar aquela beleza toda vez que sentir vontade. Sim, sinto que poderia passar a noite inteira a contemplá-la e nunca iria me cansar.

Ontem tive o resgate dessa memória tão preciosa, mas ela também se renovou, pois ao mesmo tempo que eu me recordava de algo que se passou realmente, me via desejar uma nova experiência, dessa vez não sozinho. Encaro estas experiências, a viajem e a de ontem a noite, como algumas destas surpresas da vida e que me fazem ainda crer na felicidade. Claro, não poderia também falar dessas experiências e ignorar a situação que me permitiu vivê-las. No entanto, aquilo que não é dito também fica protegido e acho que a pessoa que me levou a sorrir assim merece ficar guardada em meu peito, pelo menos até as coisas definirem seus rumos. Por hora, me contento em partilhar essas experiências, que sem dúvida, tornaram a noite de ontem, uma das mais especiais que tive em muito tempo.

Por fim, penso nas consequências das mesmas: o sorriso que agora estampa minha face corada. Vejo o sorriso como sendo uma manifestação exterior do afeto que transborda da alma. O riso de verdade, aquele dado com gosto, é belo mesmo quando quem sorrí não o é, e exatamente por isso é que ele é como um medidor da felicidade, quanto maior a alegria, maior o sorriro e consequentemente, mais bonito e contagioso. 

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