quarta-feira, 14 de junho de 2017

Pequena lição de Corpus Christi

Gostaria de começar minha reflexão com um ditado que os mais velhos sempre usam para nos convencer a não duvidar da sabedoria divina: "Deus nunca dá ponto sem nó!" Isso significa dizer que tudo que ele faz tem um propósito, uma razão de o ser. 

Por esse motivo não deveríamos nos lamuriar das tristezas e dificuldades da vida, pois elas nunca são sofrimento gratuito que nos é ofertado, mas sempre fazem parte de um objetivo maior, e quase nunca somos capazes de ver ou compreender as razões que Deus tem em seu coração para permitir nosso sofrimento.

É importante notar então como a pedagogia divina é infinitamente superior ao limitado entendimento do homem, que sempre encontra uma maneira de reduzir tudo ao seu eu. Deus nos ensina a todo momento, em pequenas e grandes lições, algumas dolorosas, outras quase imperceptíveis mas de igual importância. 

Infelizmente são poucas as vezes em que no atentamos aos valores que Deus quer nos ensinar, pois estamos ocupados demais olhando para o nosso interior. Nos esquecemos de ver Deus em sua criação e o buscamos apenas em nossas vontades, e nem sequer percebemos que estamos assim criando nosso próprio deus, ao invés de ir ao encontro do Deus verdadeiro.

A Liturgia é a "sala de aula" de Deus por excelência. É nela que ele diariamente nos ensina a mais valiosa das lições, que ele também nos legou em mandamento: "Amai-vos uns aos outros." 

O professor escreve a lição no quadro para que visualizando-a, os alunos a aprendam. Deus entrega-se a si mesmo no Santo Sacrifício do Altar diariamente, para que vendo façamos o mesmo: que nos entreguemos inteiramente a ele. 

Essa entrega é diária, como as infindáveis Missas celebradas por sobre a terra. E quando o homem se entrega ao próximo, servindo-o, como fez Jesus, ele dá o exemplo para que o outro também sirva seu próximo, e dessa forma, como uma grande corrente de amor, a lição que Deus tem para nós vai se espalhando pelo mundo. 

Tive essa pequena compreensão hoje, enquanto de joelhos no asfalto usava serragem para cobrir uma figura desenhada em tecido no chão. Tratava-se da preparação para a grande Solenidade de Corpus Christi, uma das minhas celebrações litúrgicas favoritas, por sua beleza e pela riqueza de significados.

É Deus que caminha com seu povo. Não é o povo que caminha em direção a um deus estático, que espera em seu trono para ser adorado, mas um Deus que vai ao encontro do seu povo e com ele percorrer todos os caminhos, sejam eles longos ou agrestes escarpados. Deus caminha com seu povo. Deus caminha conosco. 

Então ali, de joelhos, enquanto ria e sorria em meio a tintas, serragens e ovos picados eu percebi o que Deus queria de nós: que todos vivessem como um só. 

Quando vi a área separada para a confecção dos tapetes, me preocupei com o tamanho, mas tão logo começamos a já havíamos acabado, pois várias mãos fizeram em pouco tempo o que uma única pessoa demoraria uma noite para fazer. 

Pode parecer que a única lição aqui foi a do trabalho em equipe, também, mas não é apenas isso, a lição é a de viver em comunidade, assim como Deus se deu a nós, nós devemos nos dar uns aos outros, e assim estaremos fazendo sua vontade, seguindo seu exemplo.

"Ó Senhor como é bom ser teu povo, ser Igreja e viver como irmãos. Pelo amor que nos tens eu te louvo por te dares a nós este pão!" 
(Hinário Litúrgico da CNBB)

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