segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Confluência

Eu encontrei uma bela alegria, quando encontrei com você. Naquela tarde fresca de domingo, sem nada para fazer, além de estar ali. Encontrei essa alegria na simples dicotomia de um sorriso tímido numa conversa despretensiosa sobre as nossas aspirações para o futuro. 

O mundo parou de girar então ao redor do sol e passou a reverenciar aquele singelo momento, que como o sol era o único em toda a extensão da criação. E toda a criação pôs-se a observar com atenção o nosso doce sorriso e aquela inexperiente troca de olhares. O Cronos esqueceu-se de fazer o tempo continuar a correr, e por isso tivemos a impressão de que a hora não passava, pois até mesmo os deuses todos gostariam que aquele momento se prolongasse pela eternidade, pois tal quadro de deleites, pintado pelas mãos prodigiosas de um destino ocasional, superou e muito a beleza de todos os mundos já criados. Pensaram eles em criar uma redoma que estivesse separada do resto da existência, para ali existirmos naquela deliciosa hora para todo o sempre. 

Agora que as lembranças daquele momento alimentam minha mente de doces frutos eu me vejo a imaginar outros momentos como aquele. Mas o que o diferenciou de todos os outros que já se passaram, e que o diferenciará de todos os outros que ainda virão, foi a vontade superior do destino em criar uma falha na criação, que por um momento superasse em perfeição a própria totalidade da existência e viesse a desaparecer logo em seguida. Pondo os homens e os deuses de joelhos a implorar que mais uma vez pudessem contemplar-nos. 

Não estou triste no entanto por ter passado aquele breve instante no infinito fluxo do tempo, mas contente por ter sido escolhido para vivê-lo em sua totalidade. E não mais desejo a morte, mas apenas expandir-me para mais uma vez cobrir a totalidade da existência. Aquele foi o momento que o homem desejou viver desce o início dos tempos, o momento em que fora tapado o grande buraco no âmago do homem e que lhe aflige desde o primeiro pensamento.  

Nesta tarde calma de segunda, ainda meio cansado e deleitando-me pela dor de meus músculos, que não me deixam esquecer os momentos passados, eu me pego divagando por outra dimensão. Uma que num futuro próximo esses momentos possam se repetir ininterruptamente até o fim da existência. Uma dimensão onde não há dor e nem temor, mas onde exista apenas você e a mim, deitados um sobre o outro, em eternas tardes de verão, ao som de doces Jazz ou reconfortantes adágios de cordas, que em fluxos perfeitos expressem a perfeição que é a nossa existência enquanto apenas um. Ali, deitado sobre meu peito escutas o meu coração a bater, e tens em tua alma que ele apenas bate por estar ali comigo, pois há muito desistira de viver. 

Nesta tarde calma de minha imaginação a musica se mistura numa mágica confluência, numa profusão de violinos, violas e a nossa respiração, que como num acorde wagneriano expressa os mais profundos sentimentos da alma, e toca até mesmo os corações mais duros, petrificados pela dor do tempo.

A luz entra de forma tímida pelas frestas da janela, e delicadamente ilumina o seu corpo, que por sua vez ilumina meu coração com uma luz mais clara que a do meio dia. Sua pele de ouro reluz em contraste com a atmosfera crepuscular do fim da tarde mas é como se o sol começasse a perder em brilho para o seu olhar curioso que mesmo depois de tanto tempo ainda insiste em me olhar. 

Ali então não apenas eu me perco em divagações, mas me encontro com os deuses todos, e até mesmo os anjos, unidos em apenas uma exclamação de júbilo e amor, pelo momento que o destino, por atino ou descuido, criou. 

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