quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Velhos conselhos

Sempre ouvimos, geralmente de nossos pais e professores, que devemos tomar certa precaução com amizades em que podemos observar uma excessiva frequência afetiva por uma ou ambas as partes envolvidas. Como bons jovens que somos dificilmente, ou nunca, escutamos tão valiosos conselhos, mas nos lembramos com precisão de cada palavra a nós por eles ditas quando, em bom português, quebramos a cara!

A vida então se encarrega de nos ensinar com pedagogia de ferro a verdade inconveniente que nossos mestres tentaram nos ensinar de forma amável: É na necessidade que conhecemos os verdadeiros amigos, e a maioria deles sempre irá te abandonar quando você mais precisar, mesmo que estivessem bem ao seu lado com deles mais precisarem. 

Bom, não é nenhuma novidade isso, aliás uma pesquisa rápida pode indicar ao menos uma centena de textos com esses mesmos ensinamentos. O que mais uma vez nos leva a comparar a pedagogia dos mestres e a da vida. Eu tento ensinar aqui com palavras o que aprendi através do fogo, e as minhas cicatrizes foram meus mestres, mas ninguém aprenderá dessa forma, não, apenas conseguiram compreender essas palavras quando forem elas mesmas marcadas pelo ferro das amizades interesseiras. Dito isto, continuarei o meu monólogo com algumas das impressões que trago em meu peito, do sentimento de traição que vem se apoderando de mim nesse momento. 

Percebi que não me procuram quando querem ir ao cinema, a menos que queiram que eu pague, ou ao teatro, ou ao parque, a menos que seja para uma tarde de pegação. Não me chamam para festas, ou eventos sociais, a menos que precisem de alguém para carona, ou de um maior de idade para comprar bebidas. Não me procuram pois não pensam em mim em momentos de alegria, por assim dizer, mas apenas quando precisam de mim de algum forma. 

Quando alguém vai faltar a missa e precisam de um substituto de última hora as pessoas lembram de mim. Quando precisam fazer aquele serviço simples, mas chato, que requer paciência e organização as pessoas lembram de mim. Quando não sabem o que fazer com a própria vida e precisam desabafar sobre seus problemas familiares ou amorosos as pessoas lembram de mim, ainda que não possa fazer nada além de ouvir. 

Tenho percebido que sou um bom ouvinte, ou as pessoas não viriam com tanta frequência me contar de seus problemas que quase nunca tem alguma relação comigo. E eu escuto sempre, o máximo que consigo, mas nem sempre estou com vontade, nem sempre me sinto bem para isso. Claro que muitas vezes é necessário colocar o outro em primeiro lugar para poder ajudar, acredito que isso seja o mínimo que possa fazer em nome de meus amigos, mas ainda assim, nem sempre me sinto capaz de ouvir, ajudar, e verdade seja dita, nem sempre quero ouvir, ajudar.

Por outro lado isso parece quase nunca acontecer. De fato quando preciso dizer algo a alguém preciso vir aqui e desabafar, pois não encontro ninguém disposto a ouvir com a mesma disposição que eu. Logo, quando começo a dizer algo que sinto, como no momento, em que me sinto triste e sozinho, já sou metralhado por uma saraivada de reclamações em contrapartida como se estivesse numa competição de desgraças. 

Fico feliz por ser procurado quando precisam de algo; Na igreja, por exemplo, me agrada saber que confiam em mim para consertar quando tudo dá errado. Significa que confiam em mim. O mesmo quando algo ruim acontece, se me procuram é porque sabem que escuto... Mas e aí, sempre ouvindo, sempre socorrendo, sempre ajudando, e quando preciso de ajuda? Exatamente! 

Quando quero chorar, quando quero desabafar, eu entro no meu quarto, e fico sozinho no escuro, na companhia das músicas que me fazem bem e tentando encontrar consolo sozinho. Isso deveria ter feito de mim um homem forte, independente, que não precisa dos outros, mas foi exatamente o contrário, me tornei cada vez mais dependente dos outros e hoje me vejo completamente inútil sem alguém ao meu lado.

Minha terapeuta diz que preciso começar a fazer coisas por mim mesmo, sair mais sozinho e ir a lugares que normalmente não iria sozinho, para conquistar essa independência, imagino, mas o problema é justamente que não tenho vontade de fazer muita coisa sozinho, até mesmo quando penso em suicídio eu o faço acompanhado... De qualquer forma acredito que esse seja o único caminho, perseguir uma trilha que me leve a independência, onde não precise viver dependendo de pessoas que não se importam verdadeiramente, porque para ser sincero, ninguém se importa de verdade!

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