domingo, 27 de agosto de 2017

Dois enterros depois

Hoje foi um dia que poderia chamar de atípico, por vários motivos. O primeiro deles é que fizemos uma reunião de família. Bem, se considerar que minha família se reúne apenas em funerais é de se estranhar que tenhamos feito isso sem ninguém ter morrido, ou quase isso. O segundo motivo foi o que de fato nos moveu a esse encontro de hoje, mas para explicar eu preciso contar uma breve história...

Desde muito novo eu ouvia da boca pequena das viagens em família histórias sobre um possível adultério do meu avô. Como minha família infelizmente tinha patriarcas demasiado conservadores esse tipo de conversa se limitava a especulações que os mais jovens faziam ao ouvir as conversas dos mais velhos, logo ninguém nunca soube ao certo o que exatamente tinha acontecido. Alguns anos atrás então o assunto surgiu novamente, e dessa vez não foi abafado, quando uma mulher surgiu sabe-se lá de onde e disse ser filha do meu avô, e portanto minha tia. Pra ser sincero eu sempre curti esse tipo de coisa, não o adultério em si, mas a novidade que a situação trazia consigo.

Bom, alguns anos se passaram e a conversa volta e meia surgia. Alguns se revoltavam com ela e outros nem ligavam, e alguns outros como eu se empolgavam. Uma de minhas tias e minha avó, a traída, acabaram se revoltando com a situação e declararam guerra a qualquer um que resolvesse tocar nesse assunto, ao passo que o resto da família comprou a briga e resolveu enfrentar. Bom, dois velórios depois, o de uma tia e de meu avô, mais recentemente, resolvemos então apaziguar a situação com uma confraternização em família, onde nós acolheríamos os "novos membros" por assim dizer. 

Felizmente tudo ocorreu muito bem, até melhor do que eu esperava. Sem discussões, sem piadinhas, sem nada que deixasse o clima qualquer coisa menos do que muito agradável. E o pessoal é muito simpático, gostei muito, principalmente do primo mais velho, que achei muito bonitinho. Foi bom passar um tempo conversando, contando histórias, relembrando coisas que já há muito havia esquecido. E olha que para alguém como eu ter ficado contente com uma reunião de família é porque foi algo realmente bom!

O que me chamou a atenção, e que me incomodou muito, foi o fato de que essas reuniões, esses encontros, só foram possíveis depois de dois enterros. Poxa, será que se as pessoas soubessem sentar e resolver seus problemas numa roda de conversa com uma lata de cerveja na mão teria sido necessário esperar a morte de duas pessoas para isso acontecer? O egoísmo das pessoas me incomoda de tal maneira que as vejo diariamente cometerem erros quase sempre irreparáveis apenas por pura cegueira, motivada por suas mentes limitadas. Isso me incomoda de tal maneira que penso ser quase impossível que exista um futuro promissor ao gênero humano. 

Ok, admito que o post de hoje não continha em si nenhuma mensagem de fato importante, apenas queria contar essa história.

Obrigado, de nada!

P.S.: Sobre os dois falecidos que se foram antes de tudo isso acontecer, só posso dizer uma coisa:

"Requiem aeternam donna eis Domine, et lux perpetua luceat eis"

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