sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

O não olhar

Eu queria que ele tivesse olhado para mim mas passou reto e sério em todas as vezes que cruzamos caminhos. Só queria um olhar e um sorriso, algo que indicasse que ele se lembra de mim, mas nada, eu apenas o observei à distância, e fiquei olhando sem poder dizer nada, nem ao menos sorrir, somente imaginando como seria se eu conseguisse me aproximar, mas infelizmente essa aproximação está cada vez mais e mais distante. 

É um domingo infeliz e preguiçoso, e depois da missa pela manhã eu dormi o dia todo, acordando assustado pela movimentação da minha família que tinha começado uma festa sem que eu fosse informado. Eu estou de corpo presente apenas, sorrindo e acenando em afirmação pra tudo o que dizem sem realmente prestar ao atenção em nada, apenas no gosto da cerveja barata que compraram e que, no entanto, corresponde exatamente ao gosto que sinto da minha vida nesse dia. 

O ar do lado deles é de euforia com o jogo de futebol, um clássico segundo eles, como todos os que acontecem toda semana. Eu não tenho a mínima paciência pra futebol e, por isso mesmo, resolvi vir pra cá, na sacada, onde o céu ameaça despencar em chuva de verão, com um copo grande de cerveja e olhando na direção da casa daquele jovem acólito. 

Muito embora todos estejam animados com o churrasco, o bolo decorado com bandeirinhas do Flamengo, a cerveja e as risadas por causa dela, o clima é de melancolia, e não acho que seja só por causa dos remédios para dormir que tomei mais cedo. 

E na internet continuam as imagens dos belos homens formando belos casais, em imagens tão bonitas que eu jamais conseguira descrever aqui, e eu sozinho e triste enquanto os outros sorriem. É... Eu realmente só queria que ele tivesse me olhado mais cedo. 

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