sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Oneiros

A noite passou rapidamente desde que fui me deitar. Senti como se acordasse poucos minutos depois de me deitar. A impressão que eu tinha era a de que não havia nada dentro de mim, como se eu tivesse sido esvaziado completamente e largado apenas com o restante de minha casca no chão frio do meu quarto. 

Mas antes que eu despertasse completamente, ainda estava preso naquela fenda entre o sono e a consciência, e os dois lados pareciam querer lutar pelo domínio de minha mente. Como quem gosta de dormir, geralmente permito que Hypnos, o deus do sono, domine minha mente. E hoje não foi diferente. 

No entanto, dessa vez Hypnos e os oneiros, seus filhos, acabaram me levando para o seu estranho mundo de sonhos....

Sentado então numa casa conhecida de minha infância eu me vi mergulhado num mundo etéreo, onde o tempo passava de forma estranha e cuja atmosfera, embora buscasse ser semelhante a nossa, era esmagadora e oprimia minha existência.

Escrevia então as impressões que tinham sido gravadas em meu coração, e foi quando ele apareceu. Me surpreendi com sua presença pois não esperava aquela aparição ali... Como em todos os meus sonhos, o diálogo não fez muito sentido, mas aquela presença foi de certa forma encantadora e assustadora. Encantadora pois em sonho a imagem dele continuava perfeita, e assustadora pois eu sabia que não se tratava da verdade.

Nos sentamos no chão, ainda conversando, e foi quando me surpreendi com um beijo. A surpresa foi tamanha que a névoa de oneiros se dissipou e me trouxe de volta ao mundo, me deixando justamente com a sensação de vazio a que me referi no início do texto.

Fiquei horas ainda deitado, pensando naquelas cenas que vivi em meu sonho, e justamente tentando me livrar do vazio que oprimia o âmago dos meus pensamentos. Nem preciso o quanto aquele sonho ficou gravado na minha memória, até mesmo eu, que nunca me lembro do que sonhei consegui me lembrar com detalhes aqueles breves momentos.

Ficou claro para mim, no momento em que acordei, que foi justamente o fato de tanto ter pensado nele durante o dia que me fez ter esse sonho. Não foi a primeira vez que isso aconteceu e por certo não será a última. 

Ironicamente antes de dormir eu dizia para um amigo que estava justamente lutando para matar esse sentimento tóxico que dentro de mim fazia morada. Mas ao que parece, os oneiros me mostraram justamente que ele ainda vive, e me mostrou que ainda mexe muito comigo. 

Não sei dizer ao certo o que farei, talvez continue fugindo, mas não é uma certeza. No entanto eu já estou ciente do quanto isso é perigoso para manter dentro de mim, mas também não sei bem o que fazer para transformar esse veneno num sentimento bom e saudável, Qual será o antídoto que devo aplicar dentro de mim mesmo para então conseguir sobreviver?

Quem sabe oneiros não tenham a resposta para mim, num outro dia, num outro sonho... 

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