Dizem que os sonhos são reflexos dos pensamentos que temos
durante o dia. Nunca tive argumentos para contradizer isso pois quase nunca me
recordo dos meus e quando o faço, é sempre sobre algo que realmente fiquei
pensando durante o dia, logo acredito que seja uma afirmação verdadeira.
Mais uma vez eu me vi sonhando com ele, mesmo sabendo que
deveria acordar quando fosse levado para esse tipo de mundo. Mas ainda não
tenho esse tipo de domínio sobre meus sonhos, não consigo fugir deles somente
por querer. Infelizmente.
Até então o momento em que eu consiga ter controle sobre os
meus sonhos ou sobre os meus pensamentos eu devo ser afligido com essas viagens
forçadas para vê-lo.
Isso me irrita.
Me irrita ser levado em sonho e pensamento para ver alguém
que não se importa comigo.
Me irrita não ter controle sobre nada.
Me irrita
quando as coisas saem dos trilhos e eu não tenho experiência suficiente pra
saber que atitudes tomar nem sei onde tudo vai acabar.
Não saber me irrita.
Não
conseguir agir me irrita.
Não ter controle me irrita.
Não ter força me irrita.
Andei percebendo que tenho ficado irritado com muito mais
frequência que antigamente. Não que eu fosse um primor de paciência antes, mas
o nível do meu nervosismo chegou a pontos extremos.
Quando perco a paciência, a razão também vai embora. Eu me
vejo então num beco escuro e vermelho como sangue. Quando recupero a razão,
depois e alguns momentos, só me vem o gosto de sangue e ferro na boca e dores
por todo o corpo. Minha cabeça parece querer explodir depois de um acesso de
fúria e minhas mãos ficam roxas pela força com que pressiono as unhas sobres as
palmas.
Os motivos que me levam a esses acessos são sempre variados,
mas possuem em si uma gênese em comum. Sempre são situações em que eu não tenho
controle algum sobre o resultado de minhas ações.
Podem ser desde situações simples, como ser acordado no meio
da tarde ou que me peçam para sair quando estou quieto até situações mais
complexas, como uma reunião onde os ânimos se exaltem e eu tenho de controlar a
todos. Isso tudo me irrita.
Pessoas desleixadas me irritam. Não ter zelo e nem cuidado
com o que é importante é imperdoável pra mim. Costumo perder sempre a paciência
com isso. Infelizmente quero que as pessoas pensem e façam as coisas como eu
penso e faço. Toda vez que perco a paciência é motivado por algo assim.
Isso me fez perceber uma coisa: meu nervosismo está ligado
diretamente a minha imaturidade. O fato de eu me irritar tanto com coisas bobas
e pequenas só mostra que eu não sei lidar nem com os mínimos problemas de uma
pessoa madura.
Essa imaturidade faz com que eu tenha sempre a reação de uma
criança frente aos problemas da vida adulta e por consequência, por obviamente
não ser possível resolver nada dessa forma, eu me angustio, e nessa angustia me
vem a raiva que num acesso de fúria quer destruir tudo ao meu redor.
Se quero tratar a minha paciência, preciso tratar primeiro a
minha imaturidade, pois uma está ligada a outra. Acredito que conseguindo
compreender como resolver o problema da imaturidade, estaria resolvendo também
o problema da falta de paciência.
Tudo está ligado a isso. Por isso eu me sinto atraído por rapazes
mais novos, por pensar como eles, de forma imatura. Por isso me irrito com
situações do cotidiano, por pensar como uma criança já sendo um adulto. Por
isso encontro problemas onde não existem e por isso me irrito com facilidade.
Por ser uma criança que não cresceu, com medo do mundo lá de fora que me
assusta.
O resultado é exatamente esse: uma criancinha assustada, se
escondendo debaixo da cama e fazendo barulhos para tentar assustar quem quer
que se aproxime dali. Essa criança pensa ser um monstro, um tipo de demônio que
pode assustar a todos, mas na verdade quem a vê sente pena, por ver o quão
grande é sua ilusão.
Ilusão.
Querer ter controle sobre tudo é ilusão.
Querer ter domínio
sobre tudo é ilusão.
Querer viver para sempre num mundo de fantasia também é
ilusão.
Tenho vivido todo esse tempo num mundo de ilusões.
Tudo ao meu redor é
ilusão.
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