sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O séquito das estrelas

O sol vai se escondendo por entre as nuvens e logo a tarde também vai se acabando... A brisa se torna mais fria pouco a pouco e o breu da noite vai lentamente cobrindo o céu de um azulado camurça. Logo depois de avançar com seus lençóis por sobre o mundo o silêncio vai também se espalhando por toda a terra, como se tudo reverenciasse aquela que logo se tornaria a soberana a reinar nos céus durante a noite.

Tão logo a rainha surge nos céus e o seu salão também se torna repleto de seus fiéis, são as estrelas que salpicam a noite com sua beleza nos mostrando oceanos de pontos brilhantes que, quando olhados atentamente, formam acima de nossas cabeças um conjunto único que só poderia ter sido plasmado pela mais divinal das mãos.

Mas junto com toda beleza e com todo esse silêncio, na noite escura, como um fantasma a assustar as almas também avança sobre nós o pensamento. Como um fantasma pois o pensamento também assusta e arrepia a alma. E esse fantasma sempre toma por sobre si um véu de beleza humana, criado especialmente para domar e manipular a alma até levá-la ao completo desespero. 

O sono domina o corpo, o sonho manipula a mente, e o amor é que manipula a alma. Todos este seguem as ordens do Destino, que numa noite como essa decidiu por fazer mais uma vítima de seus planos abstratos na busca pelo sofrimento da humanidade.

Eles então colocam em prática seu minucioso plano, levando a alma do pobre viajante a se perder olhando as luzes hipnotizantes da lua e das estrelas, vendo-se viajando por toda aquela imensidão, sendo assustado por uma metálica voz, mas que esconde por trás daquele timbre algo de conhecido. O jovem desviando então seu olhar do luar e olhando para o lado o encontra finalmente, uma imagem divinal de uma frieza marmórea capaz de congelar a alma e paralisar o corpo de medo e pavor. O homem estranha esses sentimentos que o assomam poderosamente. Se seus sentimentos são de amor e afeto, a imagem do seu objeto não deveria ser algo prazeroso? Mas no lugar disso apenas passou a correr por suas vezes o medo e o pavor.

Seu sangue tornou-se modificado e transformado pela luz da lua e mudou-se num veneno poderoso, por correr dentro das veias do próprio envenenado e por usar desse mesmo sangue para matar sua própria vítima.

Mas aquele que se encontra de pé frente o jovem não é objeto de seu amor. Este se encontra longe dali, a cuidar de sua própria vida e a pensar em seus próprios amores. Aquela imagem não é outra coisa senão um engodo, para fazer o pobre modificar seu próprio sangue em dor e terror. Com a garganta em chamas ele busca então implorar pelo amor daquele que ali se mostrou. Mas as chamas o consomem de dentro para fora e no chão ele implora pela ajuda daquele que dentro de seu coração mora.

O Destino fez do desespero um aliado na morte de sua vítima e assim, ao entrar em pânico tendo seu interior pulverizado pelas chamas daquele veneno da lua, ele se ri no corpo daquele que antes era apenas um simbolismo do amor. Na mente do pobre rapaz ele só consegue ver e entender que seu amado se diverte com sua dor e sua morte iminente. Mas a morte corporal é apenas uma consequência da morte espiritual. E esse jovem não está mais vivo. Morreu de amor seu coração, e antes de morrer seu corpo também, ele se sentiu ainda mais desvalorizado por esse mesmo amor que um dia ele tanto amou.

Longe dali seu amado dorme, ou pensa, ou vive, mas o certo é que, mesmo distante, seu amado não o ama, e nem mesmo sentirá tristeza, ao receber as noticias  da morte daquele que sempre o amou. 

Esse foi o fim de uma breve história de amor, que sob a luz da lua encontrou seu derradeiro fim, e que sob a luz da lua se silenciará por toda a eternidade, fazendo da própria lua e de seu séquito de estrelas, os únicos testemunhos dessa covardia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário