domingo, 26 de novembro de 2017

Paixão de verão

O que nos leva a dizer "Eu te amo" para outra pessoa? Como podemos saber se estamos amando? Como saber não ser algo passageiro como uma "paixão de estação"?

Amar é algo demasiado complexo para se definir em poucas palavras sem cair num pedantismo ou numa simples apreensão incorreta. Isso porque amar é mais do que pode ser definido numa meia dúzia de palavras, ou em livros inteiros, que mesmo descrevendo de forma bela ainda não é capaz de abarcar o que de fato significa amar. 

De qualquer forma, mesmo sem saber o que de fato é amar, continuamos dizendo "Eu te amo". Alguns com mais frequência que outros, claro, mas é quase certo que todos já pensaram amar e logo descobriram que se tratava de uma ilusão, uma deficiência de percepção. 

Infelizmente as definições esvaziaram o verdadeiro significado do amor, que precisa ser vivido para depois ser definido e compreendido. Isso já nos mostra um indício para responder a nossa primeira pergunta: O que nos leva a dizer "Eu te amo"?

Dizemos porque não conseguimos nos expressar de forma correta, e imprecisão de nossos sentimentos se une a imprecisão de nossa linguagem, resultando em "amores" vazios. Dizemos amar sem saber que na verdade admiramos, e é bom admirar, mas admirar não é amar. Então quando nos relacionamos com alguém que desperta em nós essa admiração, seja por suas qualidades ou virtudes, dizemos que a amamos, quando na verdade queremos, e deveríamos, dizer que admiramos. Amar implica admiração, mas não se resume a isso.

Dizemos amar sem saber que na verdade desejamos, e é bom desejar, mas desejar não é amar. Nossa carência nos faz desejar, o vazio no âmago de nossa existência nos faz desejar algo que constantemente preencha o vácuo que constantemente nos magoa, e então o desespero em preencher o vazio se torna para nós uma cegueira. É comum ver, geralmente após uma decepção, que esse pode ser um erro fatal. 

O desejo que vem do amor não busca apenas a saciedade dos próprios apetites, mas transcende o Eu e desemboca numa busca pelo outro, não por necessidade, mas por algo ainda maior. Amar implica desejar, mas não se resume a isso, nem tampouco significa desejar da forma como fazemos.

Dizemos amar sem saber que na verdade gostamos. Gostamos da companhia, dos risos, dos carinhos, da atenção, mas nem sempre amamos, ainda que a pessoa nos proporcione tudo isso. Obviamente amar implica gostar, mas também transcende este.

Isso porque amar é transcendental. Amar significa admirar, desejar, gostar e ao mesmo tempo é mais do que tudo isso! 

A cegueira de que falei anteriormente nos faz macular até mesmo as mais belas admirações. Nos faz desperdiçar os momentos de prazer de nossos desejos. E quando vemos amor onde não há, e nos decepcionamos, acabamos por acusá-lo de não existir.

A admiração pode cessar, o desejo ser saciado, podemos deixar de gostar, e assim se caracterizam os nossos amores de verão. Vem, nos encantam por uma estação, como o sol encanta com seu brilho, mas quando dá lugar ao verão, percebemos que não era aquilo que pensávamos ser. 

Mesmo depois do que foi dito ainda continua difícil definir o que é o amor. Bom, para aqueles que querem apenas uma definição, que se satisfaçam com a do dicionário.

Ainda continuamos a dizer "Eu te amo", mas infelizmente esvaziando o seu significado ao confundir com outras coisas. Isso porque o amor, ao invés de definido, precisa ser vivido. E sim, isso pode ser uma desculpa de alguém que não amou para não defini-lo, mas ainda creio que, quando vivido, e demonstrado, o amor se faz entender, e é dito de vários modos, como o ser.

Não dizemos a todo momento "Eu sou assim" ou "Eu sou daquele jeito" mas apenas somos, e o amor não se diz, muito embora possa e deva ser dito por quem ama, mas também não se resume e nem cabe apenas em palavras. Continuamos dizendo "Eu te amo" porque não sabemos expressar de outra forma o que é o amor. 

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