sábado, 2 de agosto de 2025

O Sim que Nunca Ouvi de Ninguém (Nem de Mim)

O combo para dormir hoje incluiu Fernegan, Ciclobenzaprina, Dramin, Zolpidem e Diazepam. Qualquer um diria que estou tentando me matar, e pode ser verdade, embora eu ache que eu só não estou evitando morrer. Na verdade, não seria ruim, e por isso insisto em dormir, ficar desperto é um incômodo profundo.

Acordei confuso, com muitas mensagens no celular e nenhuma vontade de responder.

Ainda assim fui para a Celebração do Sagrado Coração, onde pelo menos minha função me permitia ficar quieto. Mesmo assim voltei para casa exausto. Tantas pessoas, por alguma razão o sentimento de falta de sacralidade, me deixaram com um vácuo absurdo. Nem sequer consigo exprimir direito. 

E então o resultado é este: cá estou eu, noite de sexta, absolutamente sozinho, tomando energético pra ficar acordado e planejando tomar remédio de novo para dormir durante o dia. Pena que a previsão é de calor. 

Acordei confuso, com muitas mensagens no celular. Mas nenhuma delas me agradou, nenhuma delas era o tipo de mensagem que eu queria receber.

Ao mesmo tempo que me sinto solitário, com a carência latente, me sinto completamente incapaz de me aproximar de outras pessoas. Mas o que aconteceu? 

Fobia social? Decepções sucessivas num número maior do que posso contar que me deixaram ferido e com medo de me relacionar? O fato de continuar sendo o amigo que resolve os problemas, mas nunca o amigo que chamam pra beber na sexta? E se chamassem, eu iria? 

Li em algum lugar que, qualquer coisa como "talvez", "vamo ver" ou "eu não sei" e variantes = não

"Não sei se quero" = não quer

"Talvez eu vá" = não vai

"Preciso pensar" = já decidiu e a resposta é não

O "sim" é sempre muito claro. Qualquer resposta diferente de sim, é não.

É uma lição valiosíssima que eu devia ter aprendido muito antes de as coisas ficarem assim. Frágeis, vazias e sem contorno. Eu demorei muito, bem mais do que deveria, que o "sim" é sempre muito claro. Mas já não cobro isso de ninguém, apenas de mim mesmo. Eu já desisti de respostas claras e, principalmente, já desisti de mim mesmo.

O combo para dormir amanhã vai incluir Fernegan, Ciclobenzaprina, Dramin, Zolpidem , Diazepam e umas trinta ou quarenta gotas de Rivotril. Minha dopada candura é poder me desligar do mundo ao redor.

Devo acordar em algumas horas, e talvez devesse desligar o celular para não ver nenhuma mensagem.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Altos, Baixos e o Lugar Nenhum

Altos e baixos. A vida continua como um pêndulo. No sentido descrito por Schopenhauer, entre ânsia de ter e o tédio de possuir, mas também, a meu ver, num sentido ainda mais pessimista, como um náufrago que, levado pelas ondas incontroláveis de um oceano brutal, às vezes consegue enxergar a luz clara do sol e outras vezes apenas vê e sente o peso obscuro da água que o sufoca. Altos e baixos.

E o sufoco é algo que sinto constantemente, como se nadasse, corresse, em círculos, um mero macaco andando em círculos na palma da mão de Deus, sem nunca chegar a lugar nenhum. Lugar nenhum. Esse parece ser o meu destino.

Altos e baixos. Em alguns momentos eu quero me cuidar, falo de skincare com os amigos, volto a acompanhar os lançamentos, até me animo em comprar. E no dia seguinte eu sequer consigo sair da cama, quanto mais usar o que quer que seja. 

Altos e baixos. Em alguns momentos pensar no amor, no sentido abstrato ou cristão do termo, me enche de uma luz quente, inflamado, como dizia S. João da Cruz. Mas, como também o dizia no início do mesmo verso, me encontrando em plena noite escura, me perguntando se um dia voltarei a amar. 

Acordei com uma incômoda enxaqueca, não sei se causada pela variação térmica de 10° dos últimos dias ou se é apenas reflexo do desequilíbrio químico no meu cérebro. E então, ontem me obriguei a participar de uma reunião inútil e hoje tenho outro compromisso, mas, a bem da verdade, eu só queria um remédio que me fizesse dormir o dia inteiro. 

Só queria conseguir ser um pouco mais constante no sentir, sem tantos altos e baixos. Sem amar com tanta intensidade ou tanto desprezo, sem mudar tão rápido, sem perder o brilho como fogos de artifício que voam, iluminam e logo depois se apagam. Sem estar com a mente repleta de barulhos ou em completo silêncio.

"Os olhos nus. Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo." (Lygia Fagundes Telles)