Altos e baixos. A vida continua como um pêndulo. No sentido descrito por Schopenhauer, entre ânsia de ter e o tédio de possuir, mas também, a meu ver, num sentido ainda mais pessimista, como um náufrago que, levado pelas ondas incontroláveis de um oceano brutal, às vezes consegue enxergar a luz clara do sol e outras vezes apenas vê e sente o peso obscuro da água que o sufoca. Altos e baixos.
E o sufoco é algo que sinto constantemente, como se nadasse, corresse, em círculos, um mero macaco andando em círculos na palma da mão de Deus, sem nunca chegar a lugar nenhum. Lugar nenhum. Esse parece ser o meu destino.
Altos e baixos. Em alguns momentos eu quero me cuidar, falo de skincare com os amigos, volto a acompanhar os lançamentos, até me animo em comprar. E no dia seguinte eu sequer consigo sair da cama, quanto mais usar o que quer que seja.
Altos e baixos. Em alguns momentos pensar no amor, no sentido abstrato ou cristão do termo, me enche de uma luz quente, inflamado, como dizia S. João da Cruz. Mas, como também o dizia no início do mesmo verso, me encontrando em plena noite escura, me perguntando se um dia voltarei a amar.
Acordei com uma incômoda enxaqueca, não sei se causada pela variação térmica de 10° dos últimos dias ou se é apenas reflexo do desequilíbrio químico no meu cérebro. E então, ontem me obriguei a participar de uma reunião inútil e hoje tenho outro compromisso, mas, a bem da verdade, eu só queria um remédio que me fizesse dormir o dia inteiro.
Só queria conseguir ser um pouco mais constante no sentir, sem tantos altos e baixos. Sem amar com tanta intensidade ou tanto desprezo, sem mudar tão rápido, sem perder o brilho como fogos de artifício que voam, iluminam e logo depois se apagam. Sem estar com a mente repleta de barulhos ou em completo silêncio.
"Os olhos nus. Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante do que a do sexo." (Lygia Fagundes Telles)
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