Dentre as muitas mentes brilhantes que habitaram, ou visitaram, aquela Montanha da Verdade, no interior de Ascona, na Suíça, alguns continuam como ilustres desconhecidos, enquanto outros estampam prateleiras por todo o mundo, entre amantes da literatura, espíritos revolucionários, psicanalistas, artistas e pessoas com um certo pendor anarquista.
No entanto, nem todos se sentiram realizados com o contato com aqueles homens e mulheres que ali pretendiam criar um novo céu, ou um novo inferno. A Montanha da Verdade também guardava muitas mentiras. E então alguns, iludidos por aquelas promessas, acreditavam que a resposta para o mundo opressivo burguês estava na liberdade proposta ali.
Infelizmente, na busca pela liberdade, encontravam apenas uma prisão diferente: uma prisão que, incapaz de reconhecer, aceitar e se permitir admirar a realidades, as coisas como elas de fato são, aprendiam apenas mais um conjunto de regras, também inventadas por homens e correntes de pensamento, e que também só criavam outro tipo de mundo hostil, só que travestido de liberdade.
Privavam-se de alimentos, das músicas e dos livros que aqueles escreviam, mas, ao forçar o outro a comida, as músicas e os livros que eles mesmos escreviam, só mudavam a mão do déspota que comanda com punho de aço.
A Montanha da Verdade não era um lugar de libertação, mas apenas uma prisão que não tinha a aparência cinza dos prédios e nem o preto das roupas sociais que cobriram o mundo com sua moral protestante, vazia e kantianamente elaborada a partir de uma mentira: a mentira daquela montanha via nua ou coberta por túnicas romanas tecidas de algodão cru que eles mesmos plantavam e fiavam, mas ainda era uma veste opressiva.
E, em nenhum momento, pensaram em recuar no tempo para entender de onde vinha aquela atmosfera pesada, opressiva, sufocante, que fizera com que, num determinado lugar do cosmos, surgisse uma comunidade como aquela.
Muitos subiram ali na esperança de respirar ar fresco e contemplar o alvorecer de um novo tempo, mas desceram rapidamente ao perceber que ali somente encontraram outra prisão, tão alucinada e convencida da verdade quanto aquela da qual fugiam.
Alguns poucos perceberam que não encontrariam ali liberdade, e se exilaram, não como uma comunidade, mas tornaram viajantes solitários e errantes, anacoretas, homens e mulheres que, no silêncio de seu anonimato, desistiram da liberdade e aceitara a realidade de que, no máximo, podem tentar viver exercitando certa indiferença aos sistemas que agora surgem prometendo a livre escolha de suas prisões, seja nas salas de escritórios entre prédios cinzas e ternos pretos, ou na neurose coletiva do libertarianismo.
Quantos outros continuam presos em suas próprias teias de pensamento e nem mesmo se dão conta disso? Quanto sofrem com o julgo brutal que eles nem mesmo percebem que trazem consigo? E quantos ainda tenta fazer ao outro se juntar a eles nessa mesma prisão, como todas as prisões, criadas por mentes jumanas?

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