Acho que antevendo a empolgação dos próximos dias, o meu corpo vem acumulando energia, meio que entrando em hibernação. Parece que, de repente, tudo ficou coberto por uma névoa densa, que vai entorpecendo os sentidos e me fazendo, pouco a pouco, mergulhar na escuridão do sono profundo.
Sei que, antevendo a empolgação dos próximos dias, devo me preparar para não falar demais. Sim. Embora na terapia muito se tenha dito sobre criar uma rede de apoio, eu sei bem que, no meu caso, não é assim que a coisa acontece, quando você fala o que sente e o que sofre, o outro não tem compaixão, pelo contrário, se afasta, te diminui. A doença mental é sempre vista como fraqueza, incômodo e, convenhamos, ninguém quer alguém assim por perto. Por eu quero cada vez mais estar distante do outro.
Pode ser que até presente fisicamente, mas distante. Devolvendo ao mundo a distância que sempre recebi. Me recordo dos momentos sorrindo em mesas com mais de dez pessoas ao redor, sem estar exatamente ali. Como se apenas assistisse a um filme numa tela enorme. Mas eu não estava ali naquela cena, aquela não era minha história.
Não tenho conseguido escrever sobre mim esses dias, e nem sobre outras coisas também. No momento em que pensei e disse, em voz alta, que queria começar a registrar mais dos meus estudos e impressões para, num futuro, possivelmente usar como base para um trabalho sério, acabei sendo acometido de imediato por um enorme desânimo.
Pensei em como poderia escrever sobre a linguagem audiovisual das produções tailandesas, coreanas e japonesas e então traçar um paralelo com a Sociologia, bem como coletar alguns aspectos religiosos e aplicar à Filosofia da Religião e à Religião Comparada. Por enquanto seriam apenas anotações, breves apontamentos que, algum dia, poderiam ser usados numa reflexão mais séria.
Mas, bem, foi pensar nisso que perdi completamente a força de escrever um parágrafo sequer.
Eu só queria... Não ser assim. Mas não sei bem como queria ser. Mais disposto? Mais inteligente? Mais bonito? Acho que, em verdade, só não queria ser eu. Qualquer outra coisa seria, e isso seria bom.
Não há poesia alguma nessas palavras, apenas a secura de um homem medíocre que reconhece sua mediocridade.

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