segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Sombras Entre Sombras

“A glória do mundo é transitória.” (Tomás de Kempis)

Me recordo de várias vezes ter chegado em casa cansado, depois de um longo dia de atividades como foi ontem, mas sempre com aquele sentimento bom de dever cumprido, que fazia valer as dores no corpo e o sono do dia seguinte. Mas dessa vez não foi assim. 

Passei boa parte do dia conversando, fotografando, indo de um lado para outro, socorrendo em diversas urgências. Deveria ficar feliz de, ao menos, passar algum tempo falando com amigos. Mas não. Tudo que senti quando voltei para casa foi um grande vazio. Sinto que todas as conversas, e abraços, e sorrisos, não passavam senão de frivolidades, amenidades e que, em nenhum momento, foram reais. 

A bem da verdade, não faria muita falta se não estivesse ali. Claro, não é como se alguém fosse realmente insubstituível, de fato se alguém não estivesse ali, talvez eu nem percebesse também. Mas entre ser insubstituível e ser absolutamente dispensável, há uma grande diferença. 

Ainda que todos tenham uma história, algo além das aparências e que nem sequer consigo supor, ainda assim é como se todos, inclusive eu, não passassem de sombras, pairando, flutuando, mas sem consistência, sem importância. De fato, observando tantos séculos de história, quantas milhões de vidas passaram que, hoje, ninguém se dê conta de sua ausência. Até mesmo em seu tempo, as pessoas sentem falta de quem se vai por alguns dias, em caos raros até anos, mas no fim, inevitavelmente seremos todos esquecidos. 

Isso significa, no entanto, que devemos lutar para que nos tornemos memoráveis ou que podemos abraçar a nossa insignificância e então realmente viver como se nada que fizermos terá a mínima importância. Acredito que sim, não consigo pensar em nenhuma razão que justifique suportar as angústias da vida. Ao fim do homem, apenas o esquecimento nas areias do tempo. 

Amizades, amores correspondidos ou não, desentendidos. Tudo isso findará, e logo ninguém mais se lembrará desse tempo senão com o desprezo de um tempo retrógrado. Não seremos nem mesmo sombras. 

Acho que essa sensação advém do fato de eu não conseguir me conectar. Vejo nos olhos de todos, ou melhor: não me vejo nos olhos de ninguém. Sinto apenas desprezo. Como se eu tivesse certo dom de invisibilidade, mas que, no meu caso, é mais como maldição.

E no dia seguinte já se lembram de mandar mensagens pedindo coisas. E há não muitos dias me encontrava completamente sozinho.

Ao fim, ninguém se lembrará de nós — e talvez seja esse o único consolo.

“Entre ser lembrado e ser esquecido, há o mesmo nada.” (Franz Kafka)

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