Fiquei um bom tempo procurando algo para assistir. Algo que me despertasse, que me lembrasse, por um instante, o que é estar vivo. Mas fiquei rolando a tela por longos minutos — talvez horas — e nada. Nada me agrada. Tudo parece velho, gasto, já visto. É como se o mundo inteiro tivesse perdido o brilho e eu, por dentro, estivesse apagando junto.
Há dias em que sinto que vivo numa montanha-russa de exaustão e euforia, e nenhuma das duas me serve de abrigo. O corpo dói, os olhos pesam, o sono não vem. E, quando vem, é tão raso que não descanso. É como se eu dormisse em um buraco.
Nada me toca. A música morreu, a poesia sumiu, e até as cores parecem se esconder de mim. Vivo num silêncio opaco, onde nada tem contorno. Em cima da cama há cinco livros abertos, todos pela metade — testemunhas mudas da minha desistência. Um deles está ali desde o ano passado, e ainda assim comprei outro hoje. Não o abri. Só o deixei sobre a pilha, como quem acrescenta mais um peso à própria inutilidade.
Tentei um filme. Parei no meio. Tentei uma série. Travei no terceiro episódio. Há algo em mim que se quebrou em algum ponto, e eu não sei onde nem quando. Só sei que o gosto da vida azedou. Tudo que me resta é uma tristeza antiga, dessas que não se curam nem com o tempo, porque o tempo também adoeceu comigo.
Hoje fiz compras idiotas. Coisas que não preciso, que não posso pagar, mas que por um segundo pareceram prometer algum sentido. Meu seguro termina no próximo mês. Eu deveria enviar currículos, tentar, fazer qualquer coisa. Mas a verdade é que não sei se estarei vivo quando, e se, alguém me chamar para uma entrevista.
Penso às vezes que minha vida se resume a essa espera: esperar dormir, esperar acordar, esperar que algo finalmente aconteça — e nada acontece. Não fosse a promessa de uma viagem com meu afilhado, o abraço que ainda quero sentir antes do fim, talvez eu já tivesse terminado tudo semanas atrás.
A tristeza, afinal, também é uma forma de existir.
E por um instante, o vazio me acolhe.
E penso — talvez seja isso o que chamam de paz.

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