"Entender a dor de quem foi abandonado é fácil, mas e quem precisa partir?" (ThamePo, 2025)
Desde o fim de semana eu pensei em rever ThamePo, primeiro porque já há bastante tempo venho querendo maratonar uma série de novo, além de que o clima melancólico, as cenas silenciosas, a profundidade dos olhares e os diálogos de dor, o tema dos amigos que se separam... Acho que nem eu mesmo entendi porque isso mexeu tanto comigo na época do lançamento, mas, ao rever o primeiro episódio, eu entendi: é porque eu sentia ambas as dores dos protagonistas.
Entendia a dor dos meninos que eram deixados, abandonados, como que trocados por algo melhor. Ao mesmo tempo que entendia a dor do Thame de ver tudo desmoronando mesmo fazendo seu melhor pelos amigos. E então, o que era para ser demonstração de amor entre os amigos, acabou virando um clima desagradável, olhares frios e cheios de rancor, lágrimas de dor que brotavam de cada um daqueles rostos.
Tenho sentido isso. Esperei a companhia dos amigos e me vi sozinho, e vi ainda a mobilização para ajudar os outros. Entendi agora que, embora as situações sejam diferentes, o sentimento de abandono e traição são o mesmo. E, ao constatar isso, sinto que devo suportar a dor de partir e então voltar os meus sentimentos para dentro de mim. É isso, as coisas são assim, e eu fiz o melhor que pude, e elas continuam desmoronando. Bem, acho que preciso me acostumar. Como as lágrimas que descem em meu rosto, tudo o mais sempre desmorona.
Não há, na vida real, momentos bonitos como acordar e ver que alguém passou a noite acordado com você esperando para tocar sua música favorita. Não. As pessoas me mandam mensagens cobrando coisas e pedindo conselhos. Ou elas mentem deliberadamente. Para mim não há uma terceira via.
A chuva caindo lá fora mostra que o tempo não para, ele avança sempre. Escuto meu sobrinho chorar no quarto ao lado e lamento porque a mãe dele é a pior coisa que poderia acontecer com alguém. E o tempo vai passar para ele também, e ele vai precisar sobreviver a ela. Isso é algum tipo de maldição. Não consigo enxergar a vida de outro jeito.
Dormi o dia inteiro. Não queria ver e nem falar com ninguém, e estou tentando não pensar no fato de que vou ter que encarar uma igreja cheia agora à noite. Queria continuar dormindo, ou assistindo quieto, e sozinho. É isso, me deixaram tanto tempo só que agora a presença das pessoas me incomoda. Ideal mesmo seria nem acordar. Hoje, como nas últimas noites desde sexta passada, eu vou dormir fazendo a oração mais sincera, pedindo a Deus que não acorde no outro dia.
“Sinto-me tão lúgubre, tão sem coisa nenhuma, tão sem ninguém com quem poder ter qualquer coisa, tão órfão desta sensação…” (Álvaro de Campos)

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