sábado, 26 de julho de 2025

Sobre Desistir

Obra de Sasha Hartslief

Mais uma noite em que planejava ficar acordado e assistir, mas acabei desistindo. Não é que a reprise de Hidden Agenda não me tenha prendido, mas de repente, mesmo achando que estava começando a estabilizar, senti de novo aquela dor de cabeça incômoda e a disposição se esvair por entre as fibras do meu corpo.

Mais cedo o barulho me incomodou, e eu não conseguia pensar direito. Agora, tudo é silêncio, como se olhasse uma parede vazia. Quero dormir. Mas não só dormir. Quero dormir de novo quando acordar amanhã, e não ver esse dia desgraçado que é o domingo, mesmo que todos os dias se pareçam com domingo atualmente. Quero acordar só na segunda, ou nunca. Quero acordar quando a química do meu cérebro estiver equilibrada. Quero acordar quando conseguir ver algo além de desesperança no meu futuro. 

Enquanto penso no que mais escrever, já que obviamente minhas experiências de vida estão tão limitadas que já nem sei mais sobre o que falar, e não tenho conseguido ler o suficiente para mudar isso, escuto uma versão da Sinfonia N° 4 de Mahler pela batuta de Leonard Bernstein que, confesso, achei mais fraca que outras peças que já ouvi sob a regência dele. Ou talvez seja meu desânimo falando mais alto. Se, ao fim da sinfonia, somos apresentados a certa concepção de que um longo andamento humano não é páreo para uma breve música dos anjos, eu tento encontrar e entrada para esse mundo.

Mas fui deixado no silêncio, uma vez mais. Não sei se queria companhia, ou se queria pedir pizza. Fico pensando que sempre falta algo para que eu realmente tenha vontade de ser. Que me falta uma bela casa, bons amigos, boa aparência, um bom namorado. Mas eu sei que não é verdade. O que me falta não é algo externo como essas coisas, não. Minha ausência é algo intrínseco a mim. É uma parte que falta no meu próprio ser. 

Mais uma noite em que planejava ficar acordado e assistir, mas acabei desistindo. Não de ficar acordado, mas de mim mesmo.

"(...) Eu às vezes tenho uma saudade de uma coisa que eu não sei o que é, nem de donde, me afrontando." (João Guimarães Rosa)

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