Estava ansioso para escrever, mas não sei bem ao certo sobre o assunto. Talvez seja um efeito da mistura de energético, café e chá-preto que fiz para ficar acordado a noite toda assistindo série e por ficar ansioso, a resposta do meu corpo foi de despejar aqui, porque geralmente consigo identificar o que me desencadeia um episódio ansioso, mas agora, sendo sincero, só consigo pensar na tristeza que será o Cerco de Jericó na minha paróquia, uma espécie de invencionice protestante com o Santíssimo Sacramento no meio de uma algazarra histérica, sentimentalista ao extremo, recheada de pregações bobas, para não dizer heréticas, e momentos nada menos do que sacrílegos.
Não que eu queira dar razão a eles, mas em momentos assim consigo entender a fúria de movimentos como FSSPX e tutti quanti. Realmente é algo insuportável para quem conhece a ama, ver o que se tornou a Igreja de Cristo.
Bem, mas já desabafei sobre isso no meu último texto, e é bem certo que isso, permanecendo no meu peito, deve me levar a uma confissão e comunhão reparadoras. Não porque me considere digno, já que bem sei dos meus pecados, muitos dos quais escrevi aqui, mas porque minha consciência assim me exige, e não permite que eu permaneça apenas vendo esse espetáculo de ultrajes ao Senhor na Eucaristia.
Acho que quero dormir, bem, depois de uma noite de notívago, é o mínimo que posso fazer. Queria que cancelassem a reunião mais tarde, prefiro passar o fim de semana enfiado no quarto escuro, debaixo das cobertas. Mas fui eu mesmo que marquei, então talvez ir seja o mínimo que possa fazer. Infelizmente é difícil explicar para as pessoas que meu humor mudou e eu simplesmente não quero ver ninguém.
E isso por causa daquelas pessoas, tristes almas, que já não enxergam o milagre, fecharam seus olhos para o belo e se renderam a cultura do novo. Todos os dias precisam inovar, inovar, inovar. E não é como se eu defendesse uma liturgia absolutamente estática, mas é que as invenções são sempre bobas, com único fundamento num sentimentalismo imediato, como se refletem nas músicas, uma letra de quatro linhas e repetições com sobreposição de vozes por sete minutos. Tristes almas. Como perdemos tudo que nos indicava o sagrado? O canto gregoriano, a arquitetura sacra, os ofícios, os paramentos. Primeiro veio a simplificação que tirou tudo de belo da Missa, depois, quando se deram conta do vazio que ficou, começaram a inventar uma porção de coisas para suprir esse vazio.
Vazio esse que se reflete também na alma do próprio homem. Sinto isso em cada reunião, cada vez que as pessoas clamam por novidade, mas o fazem sem conhecer o antigo, jogam fora séculos de história e agem como se estivessem entediadas de um passado que desconhecem. É uma tendência, a princípio, do jovem, mas muitos adultos a encarnaram, e como é feio, como é tosco, um adulto que age como jovem quando o único propósito do jovem é justamente amadurecer.
Onde eu queria parar? Não sei. Choveu um pouco durante a noite, lá pelo sexto ou sétimo episódio, mas eu não vi por conta das cortinas fechadas. O frio diminuiu um pouco, mas espero não ver o sol tão cedo, gosto de dias assim, embora quisesse estar mais desperto, disposto.
Mas então, no pouco tempo que me atrevo a sair do quarto eu vejo a bagunça da casa, e é como se a mente de todo mundo estivesse num completo caos, e talvez esteja mesmo, e isso se reflete no caos quer vejo o tempo todo. E todos parecem ter se acostumado com isso.
Meu pai trabalhou a vida inteira com o objetivo de comprar uma casa e ter a estabilidade de comprar comida sem precisar se regrar. Será que ele olha para trás e vê um fracasso nessa bagunça em que estamos? E minha mãe que passa os dias arrumando uma casa, limpando, lavando coisas que estão sempre desarrumadas e sujas?
Começo a sentir um pouco de fome, e lembro que não jantei. Agora prefiro esperar que acordem para não fazer barulho demais logo cedo. Não que tenham essa consideração por mim, mas continuo sendo uma criatura de hábitos. A defesa civil acaba de emitir mais um alerta de vendaval, além das ondas de frio. Já me acostumei com esses alertas desde que vim morar perto do litoral. Queria um alerta que apitasse sempre que pudesse acabar me apaixonando, ou que me dissesse para falar 'não' a uma situação constrangedora. Bem, não há muito que se possa fazer. Vai continuar frio e chovendo, e os ventos fortes continuarão causando estragos, e eu continuarei me apaixonado pelas pessoas erradas. Droga, eu realmente queria cancelar aquela reunião. Se acaso encontrar algum sentido nessas palavras, me escreva explicando. Mas se me encontrar quiseres, não busque aqui ou ali, mas mim, buscar-me-á em…
Em algum lugar da imensidão de informações soltas da internet eu encontrei o que vinha tentando dizer, pelas palavras de uma psiquiatra que passa o mesmo que eu, com a diferença de estar estabilizada. É aquela euforia disfarçada de um dia alegre, de uma conversa animada, de um contentamento por um dinheiro que caiu na conta. Mas as consequências chegam antes de acabar o dia: as palavras causam arrependimento, a animação se transmuta em descontrole financeiro e quando vejo eu gastei mil, dois mil, três mil em livros, sopas dietéticas, suplementos, sabonetes e sei lá quantas outras bugigangas.
Depois, a culpa, o peso, a insônia. Não iguais as da depressão, ainda vem acompanhada de um frenesi desgovernado. De repente a noite se torna como uma corrida silenciosa. Tudo ao meu redor se cala, estão todos dormindo, enquanto o mundo gira num vendaval na minha cabeça. Já falei disso várias vezes, mas é assim. Mas tem que ser assim? Porque eu nem mesmo vi acontecer, ou melhor, via, mas, ao mesmo tempo, não tinha nenhum controle do que fazia. Realmente como se estivesse em um carro desgovernado: não conseguia frear ou mudar a rota, apenas assistir a decida duma vez só, e o que era uma ladeira tornou-se um abismo, aquele de que também sempre falo: o abismo que cavei com meus próprios pés.
Por isso, quando me perguntam "como vai?" eu sempre sorrio de um jeito falso, digo "tudo bem" ou evito mesmo responder a verdade, e dizer, como bem me mostrou uma querida amiga, que "estou cada vez me suicidando mais", ou algo do tipo.
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