sexta-feira, 27 de junho de 2025

Miserere


Impuras são suas vestes,
não quis pensar no depois;
hoje enterra na lama,
quem consolava se foi…
“Senhor, vê meu sofrimento,
quanto o inimigo me dói!”
(Lamentos de Jeremias)

Meus olhos se encheram de água, transbordaram de tristeza. E sei que muitos, mesmo dentro da igreja, não entendem isso. Não entendem a dor que causamos ainda mais ao Sacratíssimo Coração de Jesus. Sei que há uma boa dose de hipocrisia nisso, afinal meus próprios pecados, o meu próprio corpo/templo é profanado pela minha vontade. Mas é diferente quando se trata do corpo do próprio Cristo. É diferente quando aqueles que deveriam zelar, adorá-lo, enquanto o mundo o ignora ou se escarnece dele, são os primeiros a excluí-lo, colocando-se ao centro, colocando sua criatividade como um bezerro de ouro. 

É como se nada fosse, nada significasse. Há muito eu vinha tentando relevar, cada pessoa tem seu tempo, e a cada um é dado um dom, pela boa vontade talvez sejam redimidos, ou pela ignorância invencível. Mas dói ao ver o maior de todos os tesouros no meio de sinais tão simplórios, como se fosse ele mesmo mais um personagem de uma peça de teatro boba. 

Mas isso não é nenhuma novidade para Ele. Afinal, não zombavam dele com a coroa de espinhos e uma cana na mão, como se fosse rei, aqueles que o açoitaram? E, no caminho para o calvário, enquanto a multidão se escarnecia de um homem que dizia ser Filho de Deus caminhava para a morte maus humilhante dos judeus, de modo que alguns poucos corações diziam para si "ó vós que por aqui passais, olhai, dizei: quem nesse mundo sofreu mais?" (Lm 1, 12). E continua sofrendo, mas não apenas pelas mãos daqueles que o perseguem, mas por nós, por aqueles por quem ele morreu e se entregou. Não somos dignos, Senhor, perdoai-nos, não sabemos o que fazemos. 

Que as lágrimas desse pobre pecador possam consolar-vos de tamanhas injúrias. Piedade, ó Senhor, piedade!

"Pecamos como outrora nossos pais, praticamos a maldade e fomos ímpios;
no Egito nossos pais não se importaram com os vossos admiráveis grandes feitos." (Sl 105)

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