quarta-feira, 11 de junho de 2025

Desde Quando


Eu odeio ser produtivo por um dia 
e completamente inútil no resto deles. 
Realmente odeio. 
Fiz mais hoje do que em várias semanas, 
mas não quero sequer sair do meu quarto agora, 
e estou pensando em mil desculpas 
para não ver 
e nem falar 
com ninguém amanhã. 

Dia dos Namorados, 
todos felizes, 
mãos dadas, 
músicas românticas, 
fotos em restaurantes, 
cartas de amor ridículas,
sorrisos felizes.

E eu esqueci de tomar 
meu estabilizador de humor, 
de novo. 

Enchi a cara de energéticos 
e agora quero dormir. 

E sonhar com aqueles longínquos
trigais dinamarqueses.
Sentado na varanda com um livro
ao colo e uma caneca de café ao lado
sozinho ouvindo o sino da igreja.

Desde quando eu me importo
com a métrica ausente
se ausente também o conteúdo 
e o contorno?

Desde quando o amor
doce e tranquilo
transformou o peito dos homens
num buraco indeciso?

Desde quando esse enigma
decifrado quando a luz da lua
beija o corpo dos amados
deixou nesses mesmos corpos um estigma?

Desde quando aquele amor que eu sentia
passou a ser uma constante ansiedade
uma eterna busca por saciedade
de uma fome que eu nem sabia que existia?

Desde quando um único dia, 
pode tornar-se dolorido
incômodo, 
penoso, 
tenebroso

Ao olhar para o lado esticar o braço
e sentir nada mais 
que a frialdade do ar a cortar a carne 
como corta o aço?

Desde quando me importo 
com o tempo vindouro
com as humilhações
buscando no amor algum tesouro

que possa fazer-me esquecer
depois das tórridas oito horas
de torturas lancinantes
chegar a receber em abraços algum prazer?

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