Depois de um dia todo rodeado de crianças, e sua aparente inesgotável energia, a minha se esgotou. Preciso ficar umas boas horas na cama, no escuro e em silêncio. Talvez mais tarde levante para assistir alguma coisa, aproveitando os últimos dias antes de voltar para aquele inferno, lembrando vagamente do que disse certa vez Nietzsche de que quem não tem pelo menos dois terços de seu dia para si, não importa quem seja, é um escravo.
Também venho tentando conter outra coisa que me escraviza: meus sentimentos desordenados. Minha carência, minha dependência emocional, quase me fazem mandar mensagens humilhantes, me fazendo mais uma vez buscar abrigos em portas já fechadas. É mais uma coisa que me faz voltar ao silêncio e à solidão do meu quarto escuro.
Disse, não faz muito tempo, que a saudade é uma doença cruel. E é verdade. Principalmente quando parece que... Não, é melhor nem dizer, não mais vez. Quantas vezes eu já me lamentei por não ser amado? Deve haver um limite do ridículo do quanto um homem pode se lamentar não é? Eu sei que sou um homem ridículo, mas até para isso deve ter um limite também.
Me sento na cama e olho pela janela, voltou a chover. Da sala, escuto comentários esportivos. Nunca entendi, em trinta anos de vida, essa fascinação por esportes. Mas imagino que também poucos entendam meu fascínio por atores tailandeses. Vou comer algo e deitar de novo, queria que a casa estivesse vazia. Penso em quantos dias ficaria deitado sem me levantar se estivesse sozinho. Parece um claro céu e, ao mesmo tempo, um turvo inferno.
Não sei se ouvi isso realmente ou se é fruto da minha imaginação num devaneio espiritual, mas refletir sobre o mês do Sagrado Coração fez brotar no meu coração uma prece: que o Jesus possa curar o meu jeito de amar.
Não, não me refiro a minha sexualidade. Me refiro ao modo como eu amo até a dor, como é sempre visceral, como meu amor nunca é tranquilo, nunca é um jardim florido num caloroso dia de primavera, mas é sempre uma tempestade, é sempre demais, sempre me sufoca, e sinto que não deve ser assim.
Não queria me medir pelos outros, mas sempre que vejo duas pessoas juntas, as vejo felizes, claro que há brigas e términos, mas quando parece real, flui naturalmente. Mas comigo, é sempre uma longa caminhada até o calvário. Meu amor parece doente, respira por aparelhos, clama pela ortotanásia.
"(...) Por vezes um momento de silêncio é o que existe de mais arrebatador." (Virginia Woolf)
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