"Às vezes, a poesia mais bela é sobre as coisas mais simples." (Sociedade dos Poetas Mortos)
Penso bastante nas coisas que eu mesmo digo e escrevo, numa espécie de meditação ou ruminação constantes. Por um lado me torno um tipo de melancólico, reclamão em bom português, buscando sempre entender as coisas que me circundam e, por isso, observando-as atentamente, com não pequena dose de pessimismo. Por outro lado, eu percebo que essa experiência me dá certa vantagem em relação aos outros, que, por não refletirem nada, tomam suas decisões baseadas nas paixões imediatas e acabam por perderem-se. Anos depois percebem que se precipitaram.
Foi assim comigo, mas não houve quem me desse conselho. Eu apenas saí sem olhar para trás, hipnotizado pelas possibilidades que se abriam diante de mim, possibilidade que aquele filho de Apolo mostrava-me. Mas era tudo ilusão. Logo percebi que me encontrava sozinho e sem aquela perspectiva de futuro que, hoje, dez anos depois, percebo seria a correta para mim, para minha disciplina.
Fico triste ao ver descartarem as possibilidades de um futuro tão feliz por ilusões por tantas variáveis. Mas que posso fazer?
Escrevo isso não numa admoestação, pois sei que não a lerão. Apenas penso nisso brevemente enquanto observo a chuva cair lá fora, formando um véu cinza entre os vidros da janela e a paisagem da fora que, de algum modo, parece encolher-se diante do frio.
Olho para o lado, e vejo que o silêncio é rompido apenas pelo 3° movimento da Sinfonia Trágica de Tchaikovsky que, embora agitado, não superou o frio do inverno russo. Incompreendido, pobre compositor, e hoje discutem se morreu porque quis ou se foi um mero acaso depois de uma obra que claramente é um Réquiem para si mesmo. Bobagem, cada nota da peça diz que ele já estava morto ao compor. Sua 6° Sinfonia é, na verdade, obra póstuma. Não adiantou que a escrevesse, ninguém naquelas grandes e luxuosas entenderam o que se passara ali, apenas estranharam o movimento lento, Adagio lamentoso em Bm, no fim, esperando pelas comuns e apoteóticas finalizações das obras daquele período.
Eu não busco a compreensão nem mesmo de um público de duas mil pessoas. Que apenas uma ou duas o fizessem, eu já seria bastante grande. O adágio lamentoso do meu longo Réquiem.
Por incrível que possa parecer, hoje era um dia que queria viver. Sim, de algum modo. Fosse assistindo algo na televisão ou conversando tomando chocolate quente... Mas ainda assim fui abraçado pelos tentáculos gelados do adormecer.
Não quero me deixar vencer. Não.
Quero que esse momento possa ser um recomeço. Sem aquela velha bruxa super controladora no meu pé devido a transtorno obsessivo compulsivo que ela não diagnostica e não trata.
Quero sair mais, ver mais coisas, ainda que seja com esse tédio na alma. Visitar cafés, ver mais filmes e séries sem aquele automatismo cansado... Você iria comigo? Acho que seria bom, conhecer alguém anônimo para conhecer um café. Não sei, algo me diz que a vida não deveria ser apenas isso.
Tenho evitado sair do quarto porque acho minha casa muito cheia, e eu queria um pouco de tranquilidade. A princípio me vem aquelas imagens de pequenos, porém confortáveis, apartamentos de séries tailandesas e japonesas, mas seria um sonho distante. Também não sei o quanto seria perigoso ficar sozinho todo o tempo. Bom, mas são apenas possibilidades. Distantes e improváveis.
(...) Tudo é nosso, tudo é para nós, quando reencontramos em nossos devaneios ou na comunicação dos devaneios dos outros as raízes da simplicidade. (Gaston Bachelard)
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