Ao acordar eu coloquei duas canecas ao meu lado, na minha tinha chococino de avelã, a outra estava vazia. Mas eu sei que você iria preferir café preto, torrado, puro, sem açúcar, amargo e forte. Mas estava vazia. Tomei o meu observando a chuva cair lá fora, de um jeito preguiçoso, formando como que um véu de umidade em gotículas cinzas, sem sinais de que vai passar tão cedo.
Hoje é um dia que não existirá. Poderia até ser retirado das folhinhas de calendário das casas de todos, ou simplesmente saltar um número nas agendas online. Não importa. Talvez o dia exista, mas eu não vou existir.
Serei apenas uma parte de uma paisagem escondida, um jardim secreto repleto de folhas secas. Serei apenas o final confuso de um romance absurdamente longo que ninguém nunca se dispôs a ler. E da prateleira de alguém que não sabe como ele foi parar lá, apenas existe, sem propósito.
Assim serei eu hoje.
Digo isso em verdade como espécie de marcação, afinal, já ha muito meus dias não existem. Ou sou eu que não existo mais. Passarei o dia na cama, no escuro, música baixa, ignorando tudo e todos, incluindo e principalmente, eu mesmo. Pelo menos faz frio, um frio como o das lâminas que cortam a carne de uma natureza morta. Ninguém verá a desgraça desse caixão que abriga apenas um fantasma e uma desfigurada carcaça.
Estou convencido de que a saudade é uma doença mais cruel que as do corpo. Mas também é do corpo. Dói a carne quando o coração já não quer doer sozinho. Mesmo que o amado esteja em espírito comigo, o abraço que queria,
o beijo que queria, era o do corpo próximo.
Não sexual, ainda não, só queria sentir de novo sua pele, suas mãos, suas lágrimas.
Quente, feliz, próximo, puro, belo, verdadeiro.
Como o amor dos tempos de juventude. Mas acho que estou velho demais para isso. E gordo demais. Deprimido demais. E você distante demais, além de não compartilhar os mesmos sentimentos.
Terminando de vou dormir. É o único jeito de terminar o dia que eu preferia que nem tivesse começado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário