Fugindo de mim
cadáver consciente
escapo das Verdades que, pútridas,
germinam no húmus do peito
outrora efervescente,
erguendo-se como vermes que se animam.
Rodopiam pétalas mortas,
levadas por ventos de agonia sobre a carne fria;
e nos silêncios das horas mutiladas
sepultam-se os amores de sangria.
Em verdade, meu tórax
tumba exausta onde jaz oco
como um órgão carcomido,
sem fé na vida, sem paixão, sem holocausto,
exaurido do Amor
e, mais ainda, do fingido.
Do amor-postiço, máscara apodrecida;
da hemorragia farsa dos afetos;
da imitação de chama, extinta e fingida,
que só produz fantasmas incompletos.
Daquele "eu te amo" de saliva breve
que, dito à noite, amanhece esquecido,
como um cadáver morno que se ergue
apenas para morrer
sem ter vivido.
E vão surgindo, lúgubres, indecisas,
as luzes que incendeiam quem ainda arde;
mas sobre mim só tombam cicatrizes
de astros mortos, dissolvidos em retarde.
Pois já se extinguiu, em meu deserto,
todo brilho, toda centelha, todo lume.
E os outros buscam no rosto descoberto
a claridade que em mim já não assume.
Por aqui, passam-se as horas
que mastigam dias, devorando sua trilha;
e eu, em escombros, perscruto meus estragos,
sem encontrar, em parte alguma,
um só vestígio
dessa antiga maravilha.

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