sexta-feira, 24 de abril de 2015

Em uma noite escura...

Acredito que um choque de realidade seja necessário a todo mundo de vez em quando. Todos precisam de um empurraõzinho para entender isso ou aquilo e perceber o que deve ser feito para tomar um rumo na vida. Mas algumas pessoas abusam da boa vontade do destino e querem que o mesmo o faça com uma regularidade brutal. Se é masoquismo ou burrice não sei dizer, mas que algumas pessoas parecem gostar de sofrer isso é fato. Na verdade, parece até que o sofrimento auto-infligido é algo para se orgulhar, visto que os mesmos "superam" os obstáculos que eles mesmos e propõe afim de se mostrarem fortes e capazes de superar e vencer muitos problemas. Ora, somente eles mesmos sabem que seu sofrimento parte deles mesmos, logo, os outros não tem conhecimento disso e acreditam verdadeiramente que tais pessoas são fortes, vencedoras, batalhadoras. Lamentável.

São João da Cruz disse, alguns séculos atrás no seu celebérrimo poema "Noite Escura" que á uma ditosa ventura em sair de casa sem ser notado, já que a mesma se encontra em paz e nossa alma está movida pelo amor, o amor de Deus então guia a alma dos seus filhos a uma série de provações sem igual para que a mesma alcance um grau de união a Deus superior ao de outra almas. Essas pessoas existem ainda hoje, caminham com nós, convivem com nós e lutam diariamente com suas noites escuras, a fim de guiados pelo amor, consigam subir a secrete escada disfarçada, purificar os sentidos e o espírito e se unir a Deus de tal forma que a elevação espiritual seja superior a qualquer outra coisa. Um ponto muito interessante da obra de São João é que a alma deve buscar sempre, acima de todas as coisas, o Consolador, e não as consolações. Pode parecer estranho, mas faz muito sentido. Buscar a Deus, e não as graças de Deus. A diferença? Quem busca a Deus não se desanima nem mesmo em meio a noite escura, ao sofrimento, pois sua confiança está em Deus, não nas graças que Deus nos dá. Logo, quando essas graças cessam (durante a noite escura, de forma dolorosa na noite escura dos sentidos e ainda mais difícil de suportar durante a noite escura do espirito) a alma ainda se mantém firme, mesmo em meio ao árido deserto espiritual em que se encontra, e sentindo-se longe de Deus, pois lhe faltam suas consolações, se encontra na verdade, nas mãos do próprio Deus, ainda mais próxima do que se sentiria se as mesmas não lhe tivessem sido tiradas. O amor que une Deus a Alma então não é movido por interesse, mas pelo próprio Espírito, o mesmo responsável pela união do Pai ao Filho e o mesmo que permite que a alma se encontre tão próxima de Deus que sua elevação espiritual supere a de todos ao seu redor. 


Algumas vezes, penso no perído em que estou vivendo como uma noite escura. Não muito longa ainda, diria que estou nela a 1 ou 2 anos. Santa Teresa D'Ávila passou 15 anos em meio a noite escura da alma. E não caiu, vecilou, desanimou, mas não caiu, sendo a gigante que era, claro, Deus não permitiria. Isso é um outro ponto da noite escura, a força para a superação desse fenômeno espiritual não provém da vontade da alma, mas sim da graça de Deus. 

Vejo muitos e muitos amigos se desviarem, fugirem de Deus e da Igreja por não mais suportarem os sofrimentos de suas noites escuras. Penso como Deus se entristeça com essas almas. Dá a elas a oportunidade de se unirem a ele de forma tão íntima que pode-se dizer que virtualmente se encontram em uma só, antecipando assim a própria eternidade. Mas elas fogem, se escondem e Deus, fica sozinho, esquecido e relegado ao silêncio ruidoso dos corações daqueles que querem preencher os próprios vazios de Deus com outras pessoas. E dai vem as decepções, daí partem as tristezas e desolações, daí vem toda a sorte da miséria do homem. Como disse o sábio Pe. Zezinho, "Os homens fogem do amor, e depois que se esvaziam, no vazio se angustiam e duvidam de você. Você chega perto deles, mesmo assim ninguém tem Fé."

Será essa então a minha noite escura? Sinto-me distante de Deus, mas na verdade isso tudo serve apenas para me mostrar que, confiando em pessoas falhas e tão decaidas quanto eu posso apenas me decepcionar, ao passo que aqueles que pacientemente esperam no Senhor correm sem cansar e caminham sem nem mesmo se fatigar?

Acredito então que um dia ess sofrimento terá fim. Sofrimento esse que eu causei em mim mesmo. Masoquista como sou.  Mas que Deus permite sua continuidade a fim de que eu possa um dia me unir a ele de forma íntima, como amada no amado, como foi com Santa Teresa, São João, e tantos outros...

Tenho vergonha desse dia, vergonha de mim mesmo, mas também sou covarde demais para reagir da forma que a situação exige. Me desculpo pelo incômodo que causei, mas não sou sequer capaz de me irritar com o sofrimento que me causam. Fraco. Fraquinho. Fracote. Ontem sentira meu amigo visitante distante até frio por assim dizer. Mesmo próximos os nossos corações, distantes nossos pensamentos, é como se, a proximidade de estar na mesma cama fosse balanceada por quilômetros de pensamentos. Perguntei o que estava acontecendo e a resposta veio rápido: Dificuldades em esqucer o ex. Hmm. Comecei então com minha já costumeira dose diária de masoquismo e disse que poderia ser seu namorado de mentirinha. Quando ele disse disse que não seria capaz disso, disse eu que nem mesmo de mentirinha seria seu namorado. E foi ai que recebi um golpe tão fatal que até mesmo o grande Genryūsai Shigekuni Yamamoto ficaria invejado. Ele disse: 

"Você está fora dos meus planos. kkkk
Falo mesmo pra não ter esperança. Ou seja...
Não se apaixone... se apaixonou... desapaixone."

Hitotsume: Nadegiri. 

You Lose.

Strike. 

Finish him.

Fatality. 

Hadouken.

Shouryuken.

Kaaa - Me - Ra - Me - Raaaa...!!!

"É só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte...(8)"

Duro não?

Bom, quero acreditar que agora isso funcione como um ponto final. Um marco zero que possa me permitir um recomeço. Acho que na verdade eu precisava ter ouvido isso. Com toda a dureza das palavras, pra finalmente aprender, a duras penas, a não buscar minha esperança em uma pessoa. 

O sentimento dentro de mim nesse momento é engraçado. Uma mescla de dor e horror, de alívio e desespero... Não sei ao certo qual deles está gritando mais alto, mas acho ser a confusão... ah, a confusão, essa vadia sem coração. Essa moça delicada que se desperta ao mínimo estímulo externo e que para se acalmar cobra uma taxa das suas vítimas. Um momento em que o cansaço e a fadiga já se tornam difíceis de mais de se suportar e então ela se sente na liberdade de se apossar da minha cabeça e fazer dela o que bem entender. Dizem que os homens são mais racionais, será? Acho que esse é apenas mais um ponto em que não concordo com o resto dos homens. Mas é irônico, justamente me diferencio dos homens por gostar de outros homens, mas o homem a quem entreguei o meu amor o devolveu pra mim, pois não o queria. E o fez de forma violenta e brutal.

Estou em silêncio. E o silêncio machuca. Pois ele abafa as palavras que eu gostaria de dizer. Como álguém que necessita de dizer constantemente "Eu te amo", saber que esse sentimento é desprezado pela outra pessoa chega a ser fisicamente doloroso. Uma cornucópia de palavras fluem e um vórtice infinito de sentimentos explodem.

O que fazer? Que decisões tomar? Quem tem essas respostas?

Em algum luga eu li certa vez dizendo que "Os homens tem dentro de si um vazio. Um vazio do tamanho de Deus." Essa frase me incomodou em vários sentidos, primeiro porque me intrigou muito ter um vazio do tamanho do infinito, do tamanho do tudo. E segundo, porque eu vi que eu era daqueles que tentava preencher esse vazio com o afeto de outras pessoas. Nem preciso dizer como o resultado foi trágico. Não estaria escrevendo aqui pra começo de conversa. Mas foi exatemente isso que aconteceu, e como se já não fosse suficiente, eu mesmo dizia muitas vezes para que as pessoas fizessem justamente o contrário. Como dizem os mais velhos: "Santo de casa não faz milagre."


Em uma noite escura
De amor em vivas ânsias inflamada

Oh! Ditosa aventura!

Saí sem ser notada,

Estando já minha casa sossegada.
Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,

Oh! Ditosa aventura!

Na escuridão, velada,

Estando já minha casa sossegada.
Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,

Nem eu olhava coisa alguma,

Sem outra luz nem guia

Além da que no coração me ardia.
Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia

Aonde me esperava

Quem eu bem conhecia,

Em lugar onde ninguém aparecia.
Oh! noite, que me guiaste,
Oh! noite, amável mais do que a alvorada

Oh! noite, que juntaste

Amado com amada,

Amada, já no amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro, para ele só guardava,

Quedou-se adormecido,

E eu, terna o regalava,

E dos cedros o leque o refrescava.
Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,

Com sua mão serena

Em meu colo soprava,

E meus sentidos todos transportava.
Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;

Tudo cessou. Deixei-me,

Largando meu cuidado,

Por entre as açucenas olvidado.
(São João da Cruz)
São João da Cruz, seu lindo...!!! 
Por isso amo tanto esse poema, pois ao mesno tempo em que ele fala com a ternura de um amante, sinto também como se falasse com a firmeza de São Paulo acerca da necessidade de mudar de vida. Tudo nele é perfeito. E apesar da noite escura ser complexa, fria, desesperadora, é nela que o amado nos encontra, e é confiando no amado que a alma nele repousa e ai, finalmente então, ela alcança a elevação necessária para, viver plenamente confiando em Deus, E enfim, nele reclinar o rosto em seu colo quente, sem mais mendigar o amor de mais ninguém. Sem mais depender de ninguém além dele. E ali ficar, permancer eternamente, sob seus cuidados, onde a tristeza tem sim seu poder, mas onde ela também encontra sua impotência. Onde Deus mostra sua misericórida em sua plenitude, onde as consolações não são finitas, mas também nãos são importantes, pois, maior do que as consolações é aquele que as dá. Aquele que não cessa de santificar e distribuir as suas graças entre nós.
E então a noite escura, outrora fria e vazia, se mostra quante e afável, se mostra a mais misericórdiaosa das noites, pois é graaças a ela que a união da alma ao amado é possível. Pois é através dela que alcançamos a Deus em sua plenitude. Nesse silêncio, nesse vazio. Vazio humanom repleto de Deus. Vazio que completa o vazio da minha alma. 
E assim vou aos poucos percebendo o que também Santo Agostinho levou anos para perceber: 
"Tarde te amei; 
ó beleza antiga e tão nova, tarde te amei!... 

Estavas dentro de mim, e eu, voltado para fora, procurava as formas belas das tuas criaturas. 



Estavas comigo, mas eu não estava contigo. 


Assim, longe de ti me detinham as criaturas que nada seriam, se em ti não existissem. 

Tu me chamaste, e teu grito foi maior que minha surdez; tu brilhaste, e tua luz venceu minha cegueira; espalhaste teu perfume, 
que eu senti, e agora te desejo; provei do teu sabor, agora tenho fome e sede de ti; tu me tocaste, agora em mim arde o desejo da tua paz. " 

(Santo Agostinho)

Por anos, por décadas, ele procurou preencher seu vazio com o conhecimento e buscou respostas, quando suas respostas estavam dentro de si o tempo todo, era Deus. Deus é a resposta para tudo. Não é um rapaz oud ez que poderão me ensinar o que é o amor, é Deus. É aquele que se entregou a morte na Cruz que pode me ensinar o que é o amor. 

Ah, o amor...! 



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