O contato com algumas pessoas me tirou, temporariamente, da letargia, mas logo o sono voltou, logo retornei aquele estado quase apático, ao mesmo tempo que, interiormente, me encontro meio que em dies irae. Meus olhos estão opacos, mas se você olhar fixamente para mim, vai perceber que eles ardem de ódio.
Respiro fundo, aprecio a essência de maçã e canela que colocaram no ambiente, e tento lembrar que logo mais vou poder assistir os dois episódios de hoje de Heart Killers e See Your Love. O primeiro, sendo uma produção que vem chamando bastante atenção pela ousadia dos temas abordados e inclusive mostrados. O segundo me cativando pela beleza e doçura do protagonista.
Só assim pra conseguir sobreviver mais um dia, mesmo sendo um dia bonito, fresco e nublado. Mesmo assim ainda tenho sono, e mesmo assim me sinto irritado se penso em algumas pessoas, e mesmo assim quero ir embora e dormir, dormir profundamente por um, dois dias inteiros, dormir sem precisar acordar. No fim eu sempre volto a isso, parece que essa é a única solução possível.
Começou a chover fininho lá fora, ao lado tem uma árvore com muitas flores amarelas, é uma bela vista. Já tem um bom tempo que olho por essa janela, mas essa é a primeira vez que as achei belas. Mas eu ainda queria dormir.
Cheguei em casa, assisti, não com a dedicação merecida, mas ainda consegui me emocionar, e então finalmente pude dormir, quando exatamente o sono me fugiu e eu fiquei revirando na cama por horas até adormecer de madrugada ouvindo o Concerto para Piano No. 1 de Chopin.
Fiz algumas contas hoje, enquanto pagava os boletos do mês, e percebi que, se continuar assim, boa parte do meu dinheiro vai pra pagar as contas de psiquiatria e psicologia. Quanto mais eu vou sacrificar assim?
Saudades daqueles momentos delicados entre Mick e Top, daquele toque singelo e delicado, mas tão profundo e tão cheio de significado. Tantos sentimentos naqueles dedos que se transmitiam como uma corrente elétrica, de um coração a outro, de um universo a outro num breve instante.
Assim também, como aquele toque era tão ínfimo e continha tanto, eu sou tanto, mas tão vazio.
No entanto, percebi uma coisa: ainda há alguma energia em mim, mas direcionada pro lugar errado. Eu não consigo viver, ela não é para mim. Parece que eu gasto tudo pro outro. E eu preciso concentrar também forças em me cuidar, em me curar, naquelas coisas que eu amava e que hoje não amo mais.
O sono voltou. Embora esteja relativamente eufórico, ainda quero deitar e dormir profundamente. É complicado sentir as duas coisas ao mesmo tempo.
Foram vários minutos olhando pra ele. Me encantei pela primeira vez em semanas. Lindo, fofo, de aparência delicada, olhos pequenos mas sem perder o charme masculino. Simplesmente um anjo em meio aos desastres dos últimos dias. Aproveitei o tempo para observar e guardar na memória, mas sua imagem começou a esvair assim que ele desceu. Era um horário diferente, talvez eu nunca mais o veja.
Um dia inteiro passou. A euforia aumentou, os tremores também. O pensamento acelerado também. Odeio isso, essa febre. E claro que, de novo, ninguém entende. Ninguém nunca entende. Mas ainda assim exigem. Sempre exigem. É preciso dar conta.
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