segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Com o todo

Depois de noites insones eu tento mais uma vez. Tento. Mais uma vez. Mesmo não aguentando mais. Tudo que tenho feito é aguentar. Mas admito que não aguento mais.

Queria não acordar amanhã.

Mas eu acordei, claro. 

O dia ontem foi caótico, metade da cidade parada por conta do grande volume de chuvas. Mas a semana foi infernal. Hoje é a festa da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria, e assisti uma pregação essa semana, falando sobre a importância da intercessão dela de um ponto de vista místico, excelente. Fui dormir chorando baixinho, pedindo a ela que não acordasse. 

Mas eu acordei, claro.

Fiquei um bom tempo sentado aqui na frente do computador. O céu parece de ressaca, e eu também. Mas logo vou dormir, não há necessidade de ficar acordado. Mais tarde tem alguns episódios de BL, eu acordo, vejo e depois durmo de novo. 

Se soubessem o que faço pra dormir tanto, com certeza me desaprovariam com afetação. Mas eles não entendem, que faço isso porque ficar acordado é insuportável, e que eu durmo pra não pensar nas pessoas idiotas, nas ideias idiotas, no inferno que é todo dia, nas desgraças que eu preciso suportar, porque é sempre assim, eu preciso aguentar firme, sempre mais, e mais, e mais. 

Mas eu não aguento mais. E tampouco vejo motivos para aguentar. 

Hoje um daqueles dias descritos por Adélia Prado, em que "Deus me tira a poesia, olho pedra e vejo pedra mesmo." 

Não há mais nada, posso cantar como em Turandot:

"Adeus amor, adeus raça, adeus estirpe divina!"

Não tenho conseguido pensar em nada, é como se a mente estivesse vazia, mas ainda não é um episódio depressivo, é apenas vazio, e sobre o vazio eu tenho profundidades. 

Nos últimos dias tenho ouvido mais Lykn, e continuo na febre de 10cm. Em ambos os casos, a voz forte do William, a beleza do corpo do Nut e a sensualidade do Lego, a beleza simples mais cativante do 10cm (meu Deus, eu desejando um homem casado), com a pele perfeita, cabelo perfeito, lábios perfeitos.

Não vou falar de como tudo isso se contrasta comigo de tal modo que eu me pergunto: "há necessidade de ainda tentar algo na vida se nunca chegarei lá?", e não, não há.

A vida real é feia, tem a pele macilenta, cabelos horríveis e, acima de tudo, vive uma desgraça após a outra. Como um abismo no qual caímos e que cada vez mais nos afastamos da superfície e da luz, sendo envolvidos apenas pelo frio e a escuridão. 

Mas hoje a escuridão será uma escolha minha. Vou dormir. Com a chuva que já cai há três dias eu pretendo me misturar e me derramar, sem ter onde terminar, quem sabe me impregnando tão fundo na terra que pare de existir e seja apenas um com o todo. 

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