sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Não Amor

Edvard Munch

"Três vezes seguidas um homem se sentiu morrer, por cada ocasião em que perdeu o amor. Depois, morrendo deveras, o homem sentiu pouco. Apenas que voltava a um lugar conhecido ou que, mais certo, desistia de morrer novamente." (Valter Hugo Mãe)

A partir de agora só quero me apaixonar por homens inexistentes, distantes. Pessoas que se aproximam de um nível abstrativo existencial quase sutil, que são apenas uma ideia pairando no ar... E isso porque se apaixonar pelo real, é sempre pedir por mais dor. E talvez eu encontre poesia em negar o real, em buscar apenas a mentira de um amor inexistente. Porque o amor real mata, desampara, faz perceber a imensidão de nossa solidão. Não há nada de verdadeiramente belo em amar. 

Amar é para quem aguenta a sobrecarga emocional, dizia o velho Buck. Amar é para quem ainda acredita, para quem ainda se dispõe a lutar.

Mas eu não. 

Eu já desisti. 
O amor pra mim é o longe e a miragem, 
é a filosofia incompreendida 
perdida nos livros empoeirados 
que ninguém lê. 
É a taça de vinho barato na noite. 
O amor é apenas o incômodo dolorido, 
é a lágrima silenciosa antes de dormir 

sozinho. 

O amor agora, é olhar o homem bonito que passa na estação, mas deter o olhar nele por apenas uma breve instante, e mudar a atenção para a próxima coisa, para a decoração de Natal do centro, pra roupa das pessoas cansadas e humilhadas que ainda trabalham essa época do ano. Não há tempo ou disposição para esse tal de amor. É uma posição estranha a essa época do ano, sei disso, mas não há muito que eu possa fazer. Já fiz demais. O atendente da loja de camisetas era bonito, mas a vida precisa continuar.

"Se na tua forma de reparares o mundo se der o acaso
de tropeçares na sombra do meu silêncio
lembra-te que foi sempre ali que esperei por ti." 

(Carla Pais)

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