segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Sem Poesia

Acabei indo para baixo. Eu sabia que isso ia acontecer, depois da euforia de passar por um grande evento no fim de semana, o que demandou de mim uma energia descomunal, era de se esperar que eu acabasse assim. Não me surpreende, nada mais surpreende. Eu só espero, espero pelas notícias ruins, pela depressão, pela pressão que vem de fora.  

Não são nem onze da manhã e eu já anseio pela noite, por sair daqui, voltar pra minha cama. E nem sei se conseguirei ir na missa amanhã cedo, na verdade, não quero ver ninguém, só quero poder me enfiar num buraco, só quero sumir, desaparecer completamente. Mas infelizmente não me foi dada essa possibilidade. Eu continuo aqui, existindo, nessa existência horrível, nesse dia quente, sem conhecer o amor. 

Estou me arrastando, eu sempre digo isso, mas é verdade, eu sempre estou me arrastando. É que não vejo nessa vida algo que me dê prazer suficiente a ponto de querer viver, a ponto de me fazer correr ao encontro. É sempre tudo muito chato, cinza, vazio e sem contorno. 

Eu espero pelo momento em que irei chegar em casa, e em casa, sem ter muito o que fazer, espero pelo sono profundo. Em nenhuma parte de mim há vida real. Eu continuo, apenas isso, subsistindo. 

Contardo Calligaris disse que “A única vida interessante é a vida que acontece aqui e agora. Não precisa ser épico, não precisa ser extraordinário, não precisa nada. Precisa da presença efetiva de quem está vivendo”.

Pois então, eu não me sinto aqui. Eu sinto o vento frio do ar-condicionado, sinto o bafo quente vindo lá de fora, daqui a pouco quando os convidados chegarem eu vou ficar agitado, sorrir, correr de um lado para outro, e ainda assim vou continuar sentindo que não estou aqui. E sei que isso confunde algumas pessoas. Eu sou alguém que aprendeu a sorrir na maior parte dos momentos. Quando elas escutam de mim algo pessimista, pensam ser brincadeira, elas não entendem, claro. Nem eu entendo, acho que seria preciso estar aqui para entender. E elas não estão. 

Não sei onde estão. Ensimesmadas talvez, ou nem isso. Talvez só estejam andando perdidas, sem nem se dar conta disso. 

E então a visão da minha desgraça os cansa. Patéticos miseráveis. A visão do homem hoje cansa. Olhar pro sorriso idiota deles me cansa. Me sinto cada vez mais enojado em ter que conviver com essas pessoas. E elas nunca verão a verdade, estão ocupadas demais, sendo idiotas, fechadas em si mesmas. 

Deveria dar a elas uma lição, ao mesmo tempo que me livro da obrigação de ver ou responder às coisas estúpidas que elas me dizem. Deveria me enforcar com os laços imbecis que dizem que temos, e derramar meu sangue na imagem imaculada que elas acreditam ter. Mas eles não sentiriam culpa. É um sentimento elevado demais para eles. 

Hipócritas nojentos. Mais imundos que ratos-de-esgoto. 

O único brilho que há neles, seus objetos de ouro, debaixo da terra não servirão de lastro nenhum, enquanto as próximas gerações dançam felizes sobre seus túmulos, sem nem mesmo lembrarem que um dia existiram. 

Há pessoas que não merecerem nem mesmo misericórdia.

Esperam que esteja feliz, que eu me comporte como eles, que vivem uma vida de esbórnias e felicidades efêmeras, enquanto eu vou de uma prisão à outra. 

Imundos.

Querem apenas alguém que não se expresse, mas que seja 100% eficiente o tempo todo. Pois que procurem no inferno, que é onde eles todos deveriam estar, e onde eu teria prazer de, como um demônio, fazê-los sofrer, numa ânsia vingativa (ou numa ânsia de justiça?)

Isso minou em mim qualquer vontade de ver outras pessoas. Não consegui ir à missa. Quero apenas dormir sono profundo o dia inteiro, e melhor seria se nem mesmo acordasse. 

Mas eu sei que vou acordar.

É, talvez eu devesse ter me enforcado ali e ensinado uma lição a eles. 

Porque é assim, de repente você é uma pessoa eficiente e um orgulho para esses imbecis. No outro, perde seu valor e se torna um incômodo, e então eles nem tentam esconder mais que seu único interesse era seu desempenho. Quem alguém sempre disponível, orgulhoso da sua miséria. 

Penso que nem autores escatológicos poderiam descrever a baixeza dessas pessoas, dessas criaturas nojentas. Também eu queria poder descrever a sorte de maldições que deveria lançar contra eles, pois é isso que merecem. 

Dormi ontem o dia inteiro, pois, se penso no que aconteceu por um instante que seja, me sinto enjoado, irritado, e a ira me domina. 

E hoje não será diferente. 

As coisas são assim. Durante a semana eu ceifo minha vida e canso minha cabeça. Nos demais dias eu apenas durmo, tentando não pensar no que vai acontecer no próximo ciclo do inferno. E assim, dia após dias, vai se passando minha vida. 

E não consigo nem continuar a escrever porque é assim, eles tiram minhas forças, meu sorriso e, por fim, a minha poesia. E o que resta quando não temos mais poesia?

Eu devia ter me enforcado ali e ensinado uma lição a eles.

"Eu não tinha interesses. Eu não tinha interesse por nada. Não fazia a miníma ideia de como iria escapar. Os outros, ao menos, tinham algum gosto pela vida. Pareciam entender algo que me era inacessível. Talvez eu fosse retardado. Era possível. Frequentemente me sentia inferior. Queria apenas encontrar um jeito de me afastar de todo mundo. Mas não havia lugar para ir. Suicídio? Jesus Cristo, apenas mais trabalho. Sentia que o ideal era poder dormir por uns cinco anos, mas isso eles não permitiriam." (Charles Bukowski)

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