quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Aforismos

A mente um pouco pesada, parece que estou de ressaca, mas não. É apenas o velho pessimismo tomando conta de mim outra vez, deixando tudo cinza, sem graça, meio assim, sei lá. 

Contraste entre mim e o mundo brilhante num dia de verão. A minha inspiração esses dias desapareceu completamente, como o sol faz sumir as poças de água das chuvas finas da noite. Não gosto disso. Sinto falta da minha profusão de pensamentos que me faziam escrever poesias. Sinto falta. Bem, convenhamos que passei tanto tempo sentindo tanto que, agora, quando já não sinto mais nada, parece que sinto falta de sentir, sinto falta de amar, mesmo que lembre o quanto amar é dolorido. Parece que, assim como a chuva, o sol, a inspiração, a alegria, o amor também passa... E o que fica?

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E eis que sinto que em breve nos separaremos. Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão. Quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama. Quanto a mim, assumo a minha solidão. Que às vezes se extasia como diante de fogos de artifício. Sou só e tenho que viver uma certa glória íntima que na solidão pode se tornar dor. E a dor, silêncio. Guardo o seu nome em segredo. Preciso de segredos para viver.

Para cada um de nós - em algum momento perdido na vida - anuncia-se uma missão a cumprir? Recuso-me, porém a qualquer missão; Não cumpro nada: apenas vivo. (Clarice Lispector)

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Espero que não torne a sentir nada, por isso virei o rosto, cortei a conversa, não queria olhar aquela franja, quando precisei fitá-lo, prestei atenção apenas nas marcas daquele rosto. Como se focar em seus defeitos fosse me impedir de tornar a me apaixonar. Não é isso que vai me impedir, mas a minha descrença no amor, é isso. É olhar para a beleza e sentir nada além de indiferença, nem desejo e nem repulsa, indiferença.  

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