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Lucian Freud |
Um sinal claro da desilusão: a perda do sentido e da vontade. Já saio de casa todas as manhãs esperando pelo horário que poderei voltar, voltar pra minha cama, voltar para onde não preciso ver e nem ouvir mais ninguém.
E tudo isso enquanto vejo o mundo ao meu redor desmoronar uma vez mais. Todos fazendo um esforço tremendo, lutando, lutando, o desejo de sobrevivência, de alguém que viveu bastante, por alguém que começa a respirar agora, e eu sem força para mais nada. Cadáver adiado apenas, resto de rancor, casca vazia cheia de nada. Uma vez sonhei tão alto, que agora me vejo incapaz até mesmo de ter pesadelos.
Só quero voltar para aquele forno nesse verão horrível, e esperar algumas horas para começar tudo de novo num outro inferno. Preso nesse eterno retorno, nesse ciclo infernal, como uma espécie de condenação eterna.
De que adianta preocupar se não terei forças para mudar esse destino? Só o que posso fazer é olhar, como quem olhar o horizonte, tão distante que ninguém nem ao menos tenta alcançar. É dessa forma que contemplo o mundo, aqueles que me rodeiam, o futuro, com um ceticismo profundo, um pessimismo tão arraigado no meu ser que, em verdade, pode-se dizer que eu mesmo não tenho futuro.
De que adianta tentar falar se não conseguirei dizer e, se me conseguir, não me darão ouvidos? E me refiro a falar de todas as formas, pois nas últimas semanas não conseguido escrever. Os aforismos que consegui, com muito esforço, colocar para fora, são quase ininteligíveis, ao menos é o que me parece, pois continuo incompreendido. Me disseram que devo observar isso como aquela minha explicação sobre a respiração, momentos de fôlego total e momentos de pausa em que retomamos o fôlego. Seja o que for, o sentimento geral ainda é de incompreensão, e esse parece que vai permanecer até os últimos dias.
Preciso fazer o movimento de que falava Nietzsche, acolher e transformar o vazio, mas, no momento, tudo que tenho é a dor. O nada. Onde nem a beleza, nem uma canção de amor, me fazem feliz.
"Quem se atreve a construir novos céus só encontra a fundação nas cinzas do seu próprio abismo. Na obscuridade do abismo interior, onde o niilismo inicialmente sussurra e posteriormente exclama, o espírito se depara com o vazio." (Friedrich Nietzsche)
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