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Gustave Coubert |
Me entristeço em saber que, numa sexta à noite, você se sente sozinho. Também me entristeço em notar que na mesma noite também me sinto assim. Acho que há algo de injusto nisso, principalmente levando em conta tudo o que... Ah, quer saber, é melhor deixar pra lá. Não dá pra bancar o homem que brada aos céus clamando por justiça agora. Apenas aceitar, fechar os olhos e dormir, abraçando a solidão que nos acompanha.
Acredito que não haja mais nada que se fazer. Por isso os corações são sepultados cobertos de terra, donde já não servem mais que alimento aos vermes. Não me atrevo nem mesmo em pensar que pode ser o caso de pessoas certas na hora errada, isso é ainda de um romantismo irreal. Sou apenas como aquele João, o Batista, clamando no deserto.
Mas a voz daquele que clama se perde por essas paragens, como o calor que persiste durante o dia, e na noite se esvai porque não encontra em que possa se agarrar. Se há, no entanto, um fonte a verter água fresca e cristalina, rodeada de uma vegetação verde e mais bela que os adornos de um rei, então se encontra frescor que permanece junto ao homem. Quem vaga no deserto encontra os extremos alterosos, padece de calor e frio, não tem paz, não há lugar para recostar a cabeça, não há exílio para ele no mundo. Os desertos do amor são iguais.
Também eles nos mostram suas ilusões, as miragens, são essas palavras que, ditas muitas vezes pelo próprio enamorado, acabam pro fazê-lo crer que o que ele sente se realizará. Essas ilusões são ainda mais intensas quanto maior a desidratação e mais profundo no deserto se vai, no entanto, quando cai em extremo desmaiado, esse pobre percebe que acreditou numa imagem que nunca existiu, e que só há fonte de água tão longe dali que ele jamais chegará a ver; Então, num rompante realista, ele percebe sua pele destruída pelo sol, o corpo em exaustão, e entrega sua consciência ali, caído naqueles pequeninos grãos que poderiam ser de ouro, mas são apenas pequeninas porções ferventes de um mundo real demais.
Depois de semanas eu fiz a barba, arrumeis as unhas, cortei o cabelo. Mesmo sabendo que aquela cretina vai encontrar motivo para me criticar. Uma pessoa que gostaria de ver destruída, para sentir o que faz aos outros.
É assim que as coisas são. Não há belas fotos para anunciar produtos, nada de pele perfeita, cabelo arrumado, corpos esculturais.
A realidade é esse deserto,
quente,
incômodo,
solitário.
Permaneço, então, em intenso pessimismo, a espera de mais nada além do fim. Partirei feliz por não ver mais nada, nem amores desfeitos, nem chefes abusivos, nem burgueses estúpidos. Apenas o tao desejado escurecer do fim, afinal, se não há amor, não há nada.
"As histórias que perseguem as pessoas até seus quartos de dormir são difíceis." (Virginia Woolf)
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