Hoje algo daquele vazio permanece. Ou talvez eu o queira de volta. Uma certa dose de ira me domina, e isso me faz sentir algumas dores incômodas, no corpo e na alma. A ingratidão ecoa no meu peito. Uma dor lancinante me fere enquanto ele dorme, com a doce satisfação de tê-la ajudado.
Malditos.
E eu nem sequer consigo silêncio o bastante para externalizar isso. Parece que o barulho é algo tão confortável aos outros quanto o silêncio é para mim. Mas sei que isso não é verdade, eles apenas o toleram, porque sabem que não podem lutar contra, o que só é verdade até certo ponto, afinal, se cada um pudesse se ater a própria insignificância, o silêncio seria mais aceitável. Ouvi dizer que muitos países têm no silêncio algo comum, necessário ao bom convívio, e então chego a conclusão que se trata de uma verdade aquilo que o pessimismo de Schopenhauer disse ao afirmar que a quantidade de barulho que alguém suporta está na razão inversa de sua capacidade mental.
Não é que o brasileiro seja burro e não saiba pensar e, por isso, faz barulho. Não, nem é bem esse o mecanismo. Parece que o brasileiro tem medo de pensar, porque isso lhe coloca diante de uma aceitação radical da existência que lhe parece tão aterrorizante, que o barulho se torna um refúgio de seu próprio pensamento. Cindindo sua persona o homem vive. Ou finge.
Eu, no entanto, não quero viver. Minha fuga não é para o barulho, eu quero fugir para o inferno. Com um olhar distante e vazio, percebo que as cores foram perdendo o brilho. Estou do lado de cá, onde as cores se misturam como aquarela, pouco a pouco perdendo o contorno, confundindo-se cada vez mais umas com as outras. Assim como as pessoas ao meu redor. As sucessivas decepções e frustrações me ensinaram que vai ser sempre assim. Ninguém vai sequer dar por minha falta, e aqueles que perceberem, será porque precisaram de algum favor. Como na música, talvez eles não deem a mínima. E é verdade.
"Maybe they just don't give a damn." (Rie Fu)
Malditos.
E trata-se de uma verdade. Eles não se importam. Não adiante ser esforçado como amigo, parceiro. No fim eles só estão interessados em encontrar uma namoradinha. E esses moleque nem sequer sabem como foder uma boceta.
Em se tratando de mim, os resultados precisam vir rápidos e precisos. Quando uma garota faz algo, há sempre a condescendência da mediocridade. O pau responde por eles. Largam trabalho, faculdade, qualquer coisa, para agradar na esperança de terem uma chance de enfiar algo no meio das pernas delas. Tentam atrair atenção e desejos com fotos do membro duro, e talvez consiga, já que elas estão com tanto fogo quanto eles. Uma rola dura é sempre sincera, mas uma sinceridade que até os animais possuem. E a sinceridade de coração? Aquela que mostra verdade de quem somos? Assusta demais não é? É mais fácil manter-se apenas do lado de cá. Por isso eles se merecem. Toscos.
Malditos.
E enquanto eles buscam isso, eu vou continuar quieto, no meu quarto, torcendo para que a irritante luz do sol não penetre com força demais e que me deixe dormir. Apenas isso.
"Se amar algum dia, guarde bem seu segredo! Não o revele antes de saber perfeitamente a quem está abrindo o coração. Para preservar antecipadamente esse amor que ainda não existe, aprenda a desconfiar deste mundo." (Honoré de Balzac)

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