"Pense não nas almas mortas. Mas em sua alma viva." (Nikolai Gógol)
Eu nem sequer tenho palavras pra descrever essa sensação. É mais vazia do que qualquer vazio que já senti antes. É a dor daquela traição de novo, o ser abandonado na lama, moribundo, ferido, com vermes nos meus machucados, e ainda assim ouvindo os gritos e os sorrisos, as danças, bem perto de mim. Não me importo com nenhum daqueles idiotas, não. Mas com ele sim.
Com aquele que se dizia meu companheiro, que estaria ao meu lado, e que na primeira oportunidade me deu às costas.
Quantas traições eu vou ainda suportar? Não, essa pergunta está errada, pois eu não suportei. Caí, como naquela antífona "o insulto me partiu o coração, não suportei, desfaleci de tanta dor, eu esperei que alguém de mim tivesse pena, mas a ninguém pude encontrar." De algum modo eu cantei, ou lamentei, isso, no meu peito durante todo o fim de semana.
Senti dores lancinantes, seja por conta dos remédios que tomei, na esperança de não mais acordar ou, quando percebi que não havia sido suficiente e, então, percebi que se tivesse sido, não faria diferença. E essa é uma verdade brutal que precisa ser aceita: se, ou melhor, quando, eu morrer, pois já estou resolvido, ninguém vai sentir e, se o sentir, não será por muito tempo. Em cada passo que dei esse fim de semana caiu um pouco de minha vida. E ele nem sequer percebeu.
Mas não eram nossos corações que estavam unidos? Isso me foi um golpe tão forte que nem mesmo sei como falar sobre. Ou não sei se exagerei. Nem mesmo o martelo da 6° Sinfonia de Mahler tem aquele devastador que sempre teve em mim. Estou indiferente. Nem sei o que dizer. Eu já não sei mais nada. Só sei que não haverá outra tentativa.
Eu sei que precisava falar, precisava colocar para fora de algum modo. E ainda tinha uma parte de mim que achou que fosse possível que ele entendesse. Mas não entendeu, não completamente. No fim, como esperado, eu fiquei como maluco, exagerado. É assim que me sinto. Aliviado por dizer, mas desacreditado, por mais um que vai pensar em mim como um homem completamente desequilibrado, que não vai me contar as coisas, que... Ao mesmo tempo, não suportaria ficar sem ele. É sempre assim, eu me apego de um jeito que me machuco demais enquanto o outro... É, uma vez mais, preciso lidar com as consequências de sentir demais.
Troçou de mim o Destino; fiz figas para o outro lado,
E a revolta bem podia ser bordada a missanga por minha avó
E ser relíquia da sala da casa velha que não tenho.
(Jantávamos cedo, num outrora que já me parece de outra incarnação,
E depois tomava-se chá nas noites sossegadas que não voltam.
Minha infância, meu passado sem adolescência, passaram ,
Fiquei triste, como se a verdade me tivesse sido dita,
Mas nunca mais pude sentir verdade nenhuma excepto sentir o passado)

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