Tenho pensado cada vez mais, nos últimos dias, no desejo de morar só. Simplesmente não tenho aguentado minha família e até os menores hábitos deles me irritam muita. Me incomoda tanta gente numa casa tão pequena, não poder ficar sozinho quando quero assistir em silêncio, mas ficar em silêncio quando quero conversar porque ninguém entenderia. Então não vejo vantagens. Na verdade, já é mais do que sabido que eu não vejo vantagem nenhum na vida em si.
As pessoas continuam criando compromissos para mim. Eu preciso isso, ou aquilo. Será que eu faço isso com os outros também? Deve ser muito irritante. É que não quero, estou cansado de mover um dedo sequer para o outro. No fim, quando estou em crise, fico sozinho, sempre sozinho, ou então sou alvo de piadas. E pouca coisa machuca mais do que a indiferença. Sobre a indiferença eu conheço bem.
Meus dias podem ser resumidos então nesses incômodos. Amigos ausentes, amores não correspondidos, uma comunidade tão displicente com a fé que acaba afetando a minha própria, incômodos familiares, barulho demais quando quero silêncio e silêncio quando quero uma voz.
Antes de dormir estou ouvindo uma interpretação do Daniel Lozakovich do Concerto para Violino do Brahms, é uma bela interpretação, e ele tem apenas 24 anos, já conseguindo imprimir muito da carga romântica do compositor. E então me pergunto se ele, um rapaz tão jovem e tão bonito. Tão habilidoso, também se sente assim. Será que só quando toca música ele se sente realizado? Será que as horas de ensaio lhe são um suplício enfadonho?
Sempre me pergunto se o outro também sente esse vazio tão incômodo. Se, quando busca por companhia e consolação, também encontra apenas o frio.
Onde se buscava o calor de um abraço,
ficou apenas o silêncio,
o silêncio frio do vazio.
Se não acordasse amanhã, talvez alguém chorasse, mas depois de amanhã, não mais. Não sou lembrado em vida, quem dirá na morte. Por isso penso na morte como alívio e libertação: se em ambas somos condenados a solidão, ao menos na cova experimento a solidão sem o incômodo do dia a dia. Em meu funeral até poderia cantar-se que "será uma cova grande para meu defunto parco, porém mais que no mundo me sentirei largo."
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