Um pouco de energia ainda circula pelo meu corpo. Não deve durar muito tempo. Acordei por volta das três da manhã com o barulho da chuva. Mesmo estando numa cidade que chove bem mais do que o normal, por alguma razão aquele som me encantou. Levantei, passei um pouco de chá Puerh com Baunilha, coloquei uma pequena luz quente no canto e fiquei ali, ouvindo aquela sinfonia, sentindo a brisa leve entrando por uma pequena abertura na porta e olhando a rua deserta, povoada apenas pelos meus pensamentos. Foi um momento agradável.
O meu nervosismo dos últimos dias passaram e, claro, agora chegou a vergonha da raiva desregulada, exagerada. Não totalmente sem motivo, mas certamente desmoderada. Sei que minha reclamação não deu em nada, apenas deve ter confirmado para uma meia dúzia de pessoas que eu sou maluco. Bem, não estão de todo errados. Pelo menos não preciso fingir normalidade, de todo modo mais cedo ou mais tarde eles veriam meu descontrole. De todo modo se afastariam. Três anos aqui e ainda não posso dizer que sou realmente próximo de alguém.
Mesmo assim ainda pulula no meu peito essa vontade do outro. Quase como uma necessidade, da mais básica, de ser um só, de estar com alguém. Como se eu fosse incompleto. Isso me fez, por exemplo, ignorar o fato de ter sido ignorado, porque a pessoa que me machucou estava justamente me trocando. Isso me fez perceber que não posso confiar, que devo guardar para mim o que me incomoda, afinal ninguém se importa.
Basta uma conversa breve para que eu entenda que não vou conseguir me conectar a ninguém. Por mais que tente. Sou criatura estranha. Os outros me são estranhos. Bastou uma conversa para entender quem estava do meu lado em meio a tempestade: ninguém. Gritava em meio as ondas que me lançavam de um lado para outo com violência, e ninguém me ouvir. Esperei que a tempestade se fosse, que o mar se acalmasse depois da ressaca. Olhei para o céu, ainda nublado, como se, a qualquer momento, tudo pudesse voltar. E sei que, se voltar, estarei sozinho mais uma vez.
Acho que preciso me acostumar que os melhores momentos que terei serão justamente esses simples, um chá aromático, o barulho da chuva, um ciclo de concertos para piano, algumas séries. Sem ninguém. E é isso.
"Jovem, eu exigia das pessoas mais do que elas podiam me dar: uma amizade contínua, uma emoção permanente. Agora eu sei pedir a elas menos do que podem me dar: uma companhia sem frases." (Albert Camus)

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