quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A Morte do Sagrado

Nem preciso dizer que meus planos de escrever foram completamente frustrados por toda sorte de barulhos insuportáveis que abafaram meus pensamentos de tal modo que nem consigo me lembrar direito de minhas ideias. É sempre assim. Um inferno cheio de horror, onde a estética oprime a alma até seu estágio mais baixo, e o barulho que impede que ela possa chegar a níveis superiores.

Continuo minha leitura, mais lenta do que gostaria, dos Cadernos do Concílio, e me revolto em ver o quanto tentar, a todo custo, pintar o Concílio Vaticano II como sendo uma renovação da Igreja que trouxe novo frescor a todos os seus aspectos. No mundo ideal dos padres conciliares e daqueles que defendem as reformas empreendidas por eles, hoje vivemos uma Igreja que se alimenta diariamente da Palavra, pois os tesouros da Revelação foram entregues a todos os fiéis. Os mesmos fiéis que participam ativa e consciente da sagrada liturgia que, despida dos ornamentos e orações exageradas, conseguem compreender a grandeza do rito por meio da língua vernácula.

Parece que nenhum desses teólogos visitou uma paróquia média no Brasil, qualquer uma, e viu que, na verdade, nada proposto pelo concílio sequer chegou ao conhecimento do povo senão de forma truncada, insípida, brega e tosca. 

A Palavra de Deus, em diversas traduções, deram lugar a disputas editoriais, o que em si não seria problema se cada uma buscasse uma tradução mais digna e aproximada do original, mas ainda possibilitando o conhecimento do texto. A realidade: interpretações arbitrárias da mesma, nos moldes do protestantismo. Com efeito, um grupo de oração carismático em nada se diferencia de um culto protestante qualquer. E nem me refiro às tradições protestantes mais robustas, conquanto igualmente heréticas, mas os católicos estão no mesmo nível que essas igrejolas de seitas protestantes que explodem a cada esquina como verdadeiras pragas.

A litugia, simplificada e em português, parece que contribuiu para que o fiel compreendesse menos ainda. O latim, que só era desconhecido pela população que não tinham um pequeno missal cotidiano com as traduções de todo o rito, parece que nunca existiram. Os padres atearam fogo aos antigos paramentos, nobres e dignos, para usarem no lugar túnicas amplas e estolas de adornos duvidosos. Não havia nada daquele encantamento que fazia o homem querer se aproximar e conhecer aquilo que parecia o céu nada.

Multiplicam-se os abusos. Entradas da Bíblia (sic!) durante o mês de setembro, decorações bregas, cheias de talhas de barro, tecidos, e um infindável número de bugigangas que simbolizam isso e aquilo. O simbolismo próprio a missa, as reverências ao nome de Nosso Senhor e da Virgem Maria, as batidas no peito, o ajoelhar-se no ato penitencial e da oração eucarística até a Doxologia final, expressão de contrição e adoração, foram esquecidos. Gestos vazios, diziam eles. Mas entradas com livros, bandeiras, cestas de comida (num ambiente urbano, diga-se), tudo isso é repleto de significado. Fui acusado de perder o foco da liturgia por não providenciar uma moça grávida para acender a vela da coroa do advento. Nem preciso dizer mais nada. A coroa em si já é algo de tradição protestante e, dizem, de origem pagã. Antes fosse apenas pagã, afinal a Igreja sempre se apropriou desses elementos dando a eles novos significados. Mas uma prescrição de uma moça grávida acender a vela? Loucura. 

E a quem devemos culpar? Aqueles que, no desejo demoníaco de demolir a Missa de Sempre, buscaram uma simplicidade tão grande que o homem hoje sente necessidade acrescentar algo, pois só a Missa parece pouco. É preciso, como o altar que agora faz com o que o padre se volte ao povo, que o homem seja o centro. Cada vez mais participação dos leigos e diminuição das vocações sacerdotais e religiosas. Quem poderia prever não é mesmo, que se as pessoas podem servir de qualquer jeito, por qual razão iriam se dedicar ao estudo no seminário ou a oração nas casas religiosas? 

Agora chegamos na paróquia e há dezenos de ministros (sic!) que se denominam dos mais diversos modos, como se todo lugar fosse terra de missão. O número dos acólitos diminui, porque aqueles aumentas, a permissão das mulheres junto ao altar aumenta, e os meninos, cuja proximidade com a Eucaristia ali, bem diante de seus olhos, e de cada gesto do nobre do padre em reverência ao sagrado, cada vez menos se interessam pela austeridade da vida sacerdotal. E então criam-se campanhas estapafúrdia, em desespero, quando percebem, tarde demais é claro, que as casas religiosas estão fechados, as freiras estão velhas, e os padres não dão conta das comunidades. Daí aceitam qualquer um nos seminários e depois eles dão continuidade e essa dedicado projeto de destruição da Santa Igreja: construções horrendas, a arte sacra reduzida a rabiscos mais pobres do que aqueles encontrados nas catacumbas dos mártires dos primeiros séculos, celebrações insossas ou que mais se assemelham a shows e Nosso Senhor esquecido no sacrário, sem que ninguém possa sequer adorá-lo em silêncio.

"Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!" (Sl 50)

Nenhum comentário:

Postar um comentário