“A humanidade existe, e é justamente isso que me desagrada.” (Albert Camus)
É apenas um momento, mas, de vez em quando, consigo me deixar levar pela simplicidade de uma xícara de chá. O aroma delicado, o sabor em contraste, o calor por entre as mãos. Por alguns instantes eu posso pensar apenas naquilo. Mas o calor da xícara de chá não é como o calor dos lábios, e nem dos amplexos do amado.
Mas acho que pedi demais. Foi como um estalo a me lembrar de algo que vi de passagem nos últimos dias: falava da imensa dificuldade de pessoas com idades distintas se entenderem, e como há espaço para que, na verdade, aconteça justamente o contrário. A moça no vídeo perguntava "como eu posso conversar com uma pessoas dez anos mais nova e querer que ela entenda as mesmas coisas que eu?" E é verdade, e é bem o que tenho feito.
Com trinta anos, e só agora começando a entender as dificuldades de um, ou mais, transtorno de personalidade, com mudanças agressivas de humor, muitas das quais nem mesmo eu suporto. E então, numa amizade com onze anos de diferença, esperar por compreensão e acolhimento? Eu não tinha essa maturidade dez anos atrás, não a tenho completamente agora. Só hoje a importância de ficar em silêncio ao lado de alguém. E é só isso que eu desejo, mas parece que não é assim tão óbvio, e mesmo dizendo o obvio, o outro não consegue fazer isso.
Eu escrevo sobre meus sentimentos porque é o que eu posso fazer. Ele ignora os sentimentos dos amigos e corre atrás das meninas porque é só que ele sabe fazer. Não há nada de novo nisso. As coisas são assim. O céu é azul, a grama é verde e meninos vão atrás das meninas. Só após uma certa idade, muitas decepções, é que enxergamos um pouquinho mais além dos nossos desejos individuais imediatos.
Isso mexeu mesmo comigo. Estou completamente abalado. Sinto febre e dores abdominais fortes, odeio quando o psicológico mexe assim comigo. Odeio ser fraco assim.
É só depois de um tempo que o jovem cresce e aprende a apreciar um bom chá. O de hoje era um Puerh com um delicado aroma de baunilha.
“Quando penso na humanidade, tenho vontade de vomitar.” (Louis-Ferdinand Céline)

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