sábado, 8 de fevereiro de 2025

Aforismos sobre solidão e... Amor

A coisa piora, já sinto dores pelo corpo todo, é aquela fase em que cada fibra do meu ser implora pelo não-ser. E tem sido assim, olhos baixos e cansados, disposição em frangalhos, o mundo que passa sem que o note. Ele que passa sem me notar. Eu me recusando a notar o outro. O outro cansa. O outro é um inferno, dizia o psicanalista. E eu, também inferno, preciso dormir, preciso esquecer, apagar, não me comunicar, não me cansar. E tudo me cansa. As pequenas intrigas, as grandes burrices, a política internacional, a louça suja e as garrafas vazias, o fato de que sem mim as pessoas não conseguem encontrar um maldito boleto ou enviar uma mensagem para o correspondente certo. Isso me deixa, faz eu pensar que estou aqui acorrentado, mas não estou, a vida de todos pode correr bem sem mim. Eu só queria que me deixassem ir. Eu só queria ser livre. 

Pouco a pouco fui vendo mais claramente o defeito mais difundido de nossa maneira de ensinar e de educar. Ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina — “a suportar a solidão”. (Friedrich W. Nietzsche)

Gostei daquelas imagens, de um amor ganhando seu espaço, não nas imagens toscas e superficiais da relação carnal e imediata, mas da gradual aproximação, do espaço modificado. Espaço de intimidade, que se desfez em espaço vazio, com as coisas do antigo amo ocupando espaço, no armário e no coração. As coisas, sozinhas e a dois, adquirem significado profundo. As roupas colocadas no armário, bem ao meio daquelas que estava ali antes, mostrando como, a partir daquele momento, eles estariam unidos, quase confundidos. Também pequenos detalhes, como as canecas com os nomes de ambos, para momentos de singela intimidade, um café antes do trabalho, uma bebida quente antes de dormir, acalmando corpo e mente. Skincare e banheiro, momentos compartilhados, também os sabores, agora eram os sabores deles, dali para frente, e assim o seu amor foi ganhando forma, contornos, mesmo nos encontros escondidos, nas noites a sós, no apoio mútuo. É assim que as coisas, essas coisas de amor, de amor de verdade, desses que deixam o rosto vermelho e o coração quentinho. 

"Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo."
(Alberto Caeiro)

Também aquelas outras, imagens da construção, ou melhor, da reconstrução da crença no amor. Algo difícil de se conseguir depois que foi quebrado, como um cristal em mil pedaços minúsculos. Mas aos poucos, o cuidado, a atenção, o carinho, rompem até as barreiras mais sólidas dos traumas que os amores partidos geraram. Destino ou livre arbítrio? Não importa, o amor pode operar onde quiser, até mesmo na linha tênue entre ambos, e então transformar, o ódio, a indiferença, o silêncio de anos de chuva intensa, em momentos de construção da vida de dois como um só. 

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