sábado, 15 de fevereiro de 2025

Santa Desesperança

Não venho tendo muito o que dizer. Apenas vejo os dias passarem, torcendo que cheguem ao fim ou que pelo menos o calor diminua. 

Estou tomado de desesperança. 

Não, isto não está certo. 

Não estou tomado por nada, 
é apenas e tão somente vazio.

Vazio completo 

e absoluto.

Estou num episódio misto, brutal, sinto a mente ao mesmo tempo, pesada e acelerada. Tive crises de pânico, fiquei catatônico, chorei de raiva e desespero, fui em vários médicos, psicólogos, gastei uma fortuna. 

Agora, que vou descansar ao menos por alguns dias, consigo parar brevemente, sentir a brisa no rosto aqui na sacada, observar o farfalhar das folhas em vários tons de esmeralda, bem como o céu, de um delicado azul riscado de branco.

É Valentine's Day, e as imagens pululam na internet. Ensaios de casais ou com essa temática, maquiagens perfeitas fazendo peles sem nenhum defeito, bochechas rosadinhas de blush, detalhes nos olhos com sombras em tom coral, cenários, flores, rosas e tulipas, sorrisos, abraços, posados ou não. Um mundo perfeito. E mais uma vez eu pensei em fazer o mesmo, e mais uma vez aconteceu aquilo, eu simplesmente perdi a vontade. Os produtos me parecem estranhos, pinceis são instrumentos complicados e pesam como pedras, os cenários de repente perderam a cor.

Sei que amigos criam ships para nesses dias conseguirem seguidores e oportunidades de trabalho, mas vivemos em mundos diferentes, quem faria isso comigo? Além disso, em meus desequilíbrios, eu provavelmente estragaria tudo. 

E de novo me vejo pensando no amar, nessa possibilidade que sempre se mostrou tão bela, tão forte, capaz de tudo superar, inclusive a distância e as diferenças. Mas era uma mentira, essa celebração é uma mentira, porque se alguém procurar pelo amor, não vai encontrar senão decepção, e silêncio. Quando Khalil Gibran disse "quando o amor vos chamar, segui-o", não sabia o que estava dizendo. O amor não chama, tampouco dá uma resposta sequer. O amante jaz no vazio e mergulha na própria solidão até à loucura. Amar é atar o próprio pescoço com as mãos de outrem.

Já perdi a conta de quantas vezes reclamei disso, mas ainda mexe comigo. As imagens bonitas e o contraste com o que vejo no espelho. Isso me destrói. E então não quero mais ler, ouvir música ou assistir, ou me apaixonar, quero apenas o silêncio. Foi tomada de mim a inspiração e restou apenas ele

o vazio

absoluto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário