"(...) No crepúsculo encantado da metrópole, sentia algumas vezes uma solidão assombrosa e percebia que outros também a sentiam, jovens pobres, que gastavam o tempo em frente às vitrinas, esperando a hora de um jantar solitário em qualquer restaurante; jovens funcionários de escritório perdidos no crepúsculo, desperdiçando em noites vazias os momentos mais pungentes de suas vidas." (F. Scott Fitzgerald)
Venho tentando me recuperar disso. É difícil. Me fizeram acreditar que aquele lugar, aquelas funções, aqueles eventos, eram importantes, e que eu era importante. Ilusão. Vaidade das vaidades. Era apenas uma forma de me manter preso, de me fazer ir ao meu limite, de novo e de novo, só pela próxima meta, só mais uma vez, até não sobrar mais nada, e então me tornei um pária, alguém que "não entendeu o quanto era importante", mas é sempre assim, quando se perde a serventia eles mostram quem são, não que já não soubesse antes. Raça de víboras.
Me fizeram acreditar e já não acredito mais.
Mas ainda, na grande selva de pedras da vida, há aqueles momentos que nos fazem crer no amor. Que ele literalmente vai aparecer na sua frente enquanto se está deitado olhando as estrelas, depois de cair pela exaustão. É uma bela ilusão, admito. A conquista lenta pelo acolhimento, pela doçura, o preocupar-se com o outro. Mas na vida real nem isso pode ser considerado amor. Tenho isso, temos isso, mas é amor?
Me fizeram acreditar e já não acredito mais.
O amor de verdade não existe. Ele nem mesmo liga por todo o tempo em que você o chama de "meu amor" ou "minha vida". O amor de verdade não toca corações, porque não existe. Assim como não existe ética profissional. Só existe o interesse, o eu. Nunca o nós, nunca o amor. E é estúpido que eu ainda espere por isso, ou me irrite com essa constatação, quando já sabia disso há muito tempo.
Mas é que agora
que o amor acabou,
que a festa acabou
e que a luz apagou,
eu me irrito ao ver que tudo que fiz
não valeu nada.
As marcas de meus pés que deixei na areia das praias se foram com as marés, não há sequer sinal de que estive ali. E assim será com tudo o mais, não que isso seja um problema. Com exceção de alguns poucos homens, no momento escuto Shostakovich, toda nossa influência por essa terra desaparece em alguns poucos anos, muitas vezes antes mesmo disso. Tudo empalidece. O bater dos sinos emudece e até as copas das árvores, que vivem mais do que um homem, acabam perdendo suas folhas verdes e brilhantes e viram apenas um pedaço seco de madeira. É só que, diante da fragilidade e finitude do homem, nos perguntamos o que tem realmente valor. O que mantemos em nosso coração quando a dor se instala, o corpo já não responde e a mente já não distingue?
A quem devemos respeitar e a quem devemos amar?
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