quinta-feira, 14 de maio de 2015

Minha estória - Cap. 1 ~ Luna

Luna

A chuva caia rapidamente do lado de fora do carro e fazia uma barulho alto e agradável ao bater nas janelas e abafar os ruídos que normalmente se ouviriam a distância em um colégio, ainda mais um colégio daquele tamanho, com tantas crianças barulhentas e tantos jovens ávidos em conversar sem parar nem por um momento sobre suas vidas. Já estávamos na metade do 1° semestre. Entrar no ensino médio já não era uma tarefa fácil, entrar no ensino médio duas vezes num mesmo ano então era algo quase insuportável. 

Ta, dramas a parte, a vida escolar por aqui não é como vemos nos filmes americanos onde as panelinhas são praticamente a lei da instituição e o status quo é muito mais importante que o ensino aprendizagem dos alunos. Não, não seria tão complicado assim, mas certamente não seria também fácil. 

Eu sempre fui incrivelmente péssima em fazer novas amizades. Não era lá a pessoa mais inteligente do mundo e nem também a mais obtusa. Não era a mais bonita, mas tinha certo charme. Mas nada que chamasse de fato a atenção de ninguém a ponto de querer se aproximar de mim. Mas também não era uma esquisitona solitária esperando por uma grande aventura começar dando início a uma jornada de auto descobrimento que resultaria num grupinho de 4 ou 5 amigas que viajariam pelo mundo compartilhando um jeas da sorte. Essas coisas não existem. Sou uma pessoa normal. Simples assim. 

Me despedi então de minha mãe que estava dirigindo cautelosamente naquela manhã por causa da chuva forte que impedia boa parte da visão e disse para o meu irmãozinho correr assim que abrisse a porta, a fim de evitar que chegássemos mais encharcados do que já chegariamos a descer. 

- Um grande primeiro dia - Pensei -  molhada e ainda surtada em ficar gritando com o irmãozinho. Mas ele é sempre muito lerdo. E as expectativas não poderiam ser menores. 

Depois de entrar correndo com meu irmão na nova escola, um prédio grande e imponentemente cinza, se destacando em meio as arvores do seu próprio terreno que era consideravelmente maior dos que todos os outros próximo dali, fui então a procura de minha sala, caminhando sem muita convicção até um mapa que ficava na entrada. O prédio era tão grande que precisava de um mapa para os alunos se localizarem. Na minha antiga escola, eram apenas 3 pavimentos, todos no solo, e frequentemente um aluno conhecia alunos de todas as outras salas, visto que era uma escola bem pequena. Por outro lado, mesmo alguém que tenha estudado aqui por toda a vida não deve conhecer mais do que a metade de um único andar. A escola era realmente grande. 

Identifiquei que minha sala deveria ficar no 4° dos 5 andares e no Pavilhão Norte, o chamado Torre Verde. Meu irmão, que viera pra cá uma semana antes já sabia bem onde era sua sala e nem pensou duas vezes antes de me deixar e sair correndo para alcançar uma menina que provavelmente era de sua sala. Tomei uma escada larga que se abria a minha direita e fui lentamente atrás de minha sala. Quando ainda estava no 3° andar, ouvi o delicado sinal avisando que todos os alunos deviam ir para suas salas por as aulas logo comecariam, Me apressei e notei que subi na torre errada, dei a volta rapidamente no corredor e cheguei a Torre Verde, com muitos olhares voltados para mim, a menina ruiva que andava rapidamente molhada pelo corredor já vazio. 

Finalmente encontrei a sala, 16B, correspondente ao 1° ano B, com a porta já fechada. Droga, Isso signifaria que toda a sala já estava quieta e a aula provavelmente já começara, sendo eu obrigada a ter de olhar para todos antes de conseguir um lugar. Bati. Nenhuma resposta. Bati novamente. Uma senhora gordinha de óculos e aparência simpática abriu com um livro dobrado nos braços me recebeu e fez sinal para que entrasse.

- Oh, Senhorita Luna, você conseguiu, seja bem vinda. 
- Obrigado - disse, sentindo minha bochechas ficarem vermelhas.
- Vamos, não tenha medo, sente-se e logo logo vai conseguir nos acompanhar. Eu leciono Matemática, vamos. - disse ela apontado para uma mesa vazia do outro lado da sala, o que significava que eu teria de andar muito até chegar lá, com os olhares curiosos a minha volta. Ao menos não houveram apresentações.
- Certo, er, tudo bem.
- Ah, quase ia me esquecendo, volte aqui. - Droga, eu já estava a meio caminho - Essa é a senhorita Luna, que acaba ser tranferida para nossa escola. Sejam todos gentis com ela - agora é oficial todos estão olhando para mim. Alguns com expressões de curiosidade, outros com a já conhecida cara de deboche, como quem iria me pregar uma boa peça em um ou dois dias.

Não me demorei e logo fui ao meu lugar, tropeçando uma vez antes de conseguir finalmene me sentar e fixar o olhar num ponto fixo do quadro até que a vergonha passasse. Essa seria uma semana difícil. Me sentei na 4 cadeira da última fileira, encostada na janela, que agora escorria da violenta chuva que parara a poucos minutos. Eu estava certa, a aula já começara a tempos, demorei mais do que percebi em cruzar as torres, e o quadro já estava repleto de uma matéria que identifiquei como sendo correção de um exercicio anterior. Mais um problema em se mudar quando o ano letivo já começara. As atividades já estariam todas em desenvolvimento, e eu levaria semanas para conseguir acompanhar. Depois se seguiu mais uma breve explicação de uma matéria que eu já estudara e mais exercícios. Pelo menos eu podia me concentar apenas no livro sem ter de olhar a minha volta. 

Depois de vários minutos, pois as aulas eram geminadas, a professora gordinha finalmente foi embora, entrando em seu lugar um homem alto, de bigodes grossos e terno cinza, que logo começou a explicar a matéria de lingua portuguesa. Sua explicaçãoe era simples, e como não houve muita coisa complexa eu pude acompanhar sem muitas dificuldades. Após essa, que seria a 3° aula, ouve o intervalo. Claro que eu não sai da sala, me aariscando a me perder novamente e me atrasar para o 4° horário. Fechei o livro e o caderno, os arrumei embaixo da carteira e encostei a cabeça no braço, assim, podia ouvir a chuva que recomeçara e batia lentamente na janela eo meu lado e ainda ignorar os outros alunos. 

Não ficaram muitos alunos. Dois rapazes bonitos que conversavam sobre uma partida de futebol que estavam planejando pra dali a dois dias. Uma moça que estava claramente dormind desde a 2° aula e um rapaz muito bonito também de cabelo preto que ouvia música. Ótimo. Não precisaria me esforçar em manter nenhuma aparencia. 

O intervalo passou lentamente. Ora alguns alunos entravam e saiam da sala, mas quando foi dado o sinal para o 4° tempo, todos já estavam de volta e bem acomodados, Mas pelo que entendi, por que o professor de biologia, que entraria ali agora costumava reclamar demasiadamente com os alunos a ponto de todos se acostumarem a voltar mais cedo do intervalo na segunda feira. Ele era realmente rígido em sua sala, não houveram conversas e nem piadinhas. Mas fora isso não vi nele nada que o caracterizasse como um ditador, como ouvi mais cedo. 

As duas últimas aulas também seriam geminadas, história. A professora pediu então que nos dividíssemos em grupos. Droga. Socialização forçada. Os grupos deveriam discutir entre si aspectos de Roma e Grécia entiga e a atividade se desenvolveria em 5 aulas, sendo essas 2 primeiras, dedicadas a discussão interna do grupo. Por sorte, os participantes já tinha sido previamente sorteados pela professora que como sabia que eu chegaria naquela semana já me incluira num grupo.

Erámos então eu, mais 2 meninas e um menino. Uma delas era loura e bonita, simpática e de personalidade forte pelo que pude observar, e se apresentou como Anna. A outra, tinha o cabelo castanho e cacheado, que combinava com sua pele morena e se apresentou como Cybelle. O rapaz, Eric, era meio desligado, mas muito bonito, de pele bem clara, corpo definido e o cabelo escuro bem arrumadinho num topete. Perdi tanto tempo fazendo essas observações que nem notei quando me perguntaram meu nome. Então a loura repetiu com uma expressão de quem desconfiava de minha capacidade intelectual em estar ali.

- Ei, e você, como se chama? - Disse ela num tom quase impaciente.
- Ah, eu me chamo Luna, acebei de vir da Capital... - disse envergonhada, abaixando a cabeça.
- Por que sairam da Capital? Veio sozinha? - Perguntou a morena.
- Minha mãe foi tranferida para a filial daqui. Não. Viemos eu, ela e meu irmão mais novo.
- Ela trabalha com o que? - tornou a perguntar Cybelle.
- Não sei bem. Ela cuida da contabilidade de uma loja de computadores...
- E por que mandaram ela pra cá?
- Muito bem, depois que terminarmos ela responde o que a gente quiser pode ser? - Interrompeu Anna com uma piscadela, já que a professora vinha em nossa direção - Ei, acorda! - Ela cutucou o ombro do rapaz que tombara sobre os próprios braços e acordou num sobressalto.

A professora passou então por nós e foi chamar a atenção do grupo que estava a nosso lado, e fazia piadinhas acerca da sexualidade dos soldados romanos. No entanto, sua advertencia não surtiu o efeito desejado, pois os alunos passaram a rir ainda mais alto, e ela os deixou, com uma expressão divertida no rosto.

Começamos então a discutir sobre o assunto. Na verdade, eles começaram, e de tempos em tempos tantavam me incluir na história. Percebi que eles não costumavam fazer aquilo também. Anna e Eric conversavam tranquilamente, mas Cybelle, embora enérgica, nã estava a vontade com os dois, e eu menos ainda. Ma de rest foi tranquilo. Pouco mais de 1 hora depois já tinhamos exaurido todo o tema e voltamos ao papo de minha mudança, depois, consegui levar a conversa para outro rumo e perguntar sobre eles também. Eric se mudara para cá com o pai no ano passado, então sabia como eu me sentira em relação a escola nova. As outras duas semmpre moraram aqui, com exceção de Anna que morou 2 anos com uma tia em uma cidade próxima, mas voltou quando ela morreu. Fim da aula.

Meu irmão já fora embora mais cedo (o 6° tempo é apenas para o Ensino Médio) então eu estava certa de que seguiria sozinha para casa. Mas descobri que Eric morava perto, então seguimos andando em silêncio, depois de nos despedirmos de Cybelle e Anna que seguiram cada uma por uma rua diferente. 

Não andara muito desde que cheguei aqui, na sexta passada. Mas sabia como chegar em casa. Era só seguir pela estrada de Ypês e dpois virar em 2 esquinas que já chegava em nosso condomínio. Eric, ficou uma rua atrás. 

Moro no 2° andar. Entrei em silêncio e notei que estava sozinha em casa. Meu irmão teria ido para o escritório de minha mãe e então eu ficaria sozinha até a noite. Resolvi me deitar e descansar da manhã longa, e acabei pegando no sono. Como nenhum dos professores passou atividade para casa, estava livre aquela noite. Terminei de arrumar algumas coisas que ainda não tinha ajeitado e fiquei deitada, navegando na internet por algumas horas, esperando minha mãe chegar para fazer o jantar, não estava disposta a fazer isso eu mesma. Me surpreendi com um convite de amizade de Anna no Facebook e depois de aceitar o dela, o de Eric e Cybelle também. Simpáticos. 

Minha mãe chegou pouco depois das 20h, saíra mais cedo do escritório e passara no mercado comprando algumas pizzas congeladas para a noite. Pelo visto não era a única a estar indisposta. Mas ela se adptara bem melhor do que eu no escritório. Tinha autoridade e fora transferida a pedido da própria presidente da corporação.

- Como foi o primeiro dia? - perguntou colocando um grande pedaço de pizza  para mim enquanto meu irmão atacava um enorme prato ao seu lado.
- Melhor do que eu esperava. Sem mortes. Vamos ver como termina a semana. - disse desanimada.
- Bom, se ninguém morreu já é um bom sinal. 
- Acho que sim. E no escritório? 
- Tudo tranquilo. Não estavam muito confiantes com uma mulher no comando, como eu esperava, mas depois de uma semana, já parecem acostumados comigo... - disse com uma expressão de deleite, e eu sabia que ela estava fazendo todos trabalharam  três vezes mais do que o chefe anterior, demitido por roubo,
- Não vá fazer inimigos.
- Não faço inimigos, mas também só faço o que eu quero - disse rindo - Fellipe, não coma tudo de uma vez, ai...
- Desculpa... - disse ele de boca cheia.

Meu irmão se dera bem na nova escola, já tinha amigos e até uma menina com quem estava quase tendo um romance, como ele mesmo disse. Mas eu sabia que romance não seria a palavra certa. Ele não era romântico, e iria largar a pobre moça assim que encontrasse outra mais interessante.

Depois de comer, subi e tomei um banho bem quente, antes de me deitar. Minha mãe também dormir e Fellipe estava na sala vendo séries e comendo chocolate. Eu me deitei e fui verificar as mensagens no celular. Alguns amigos da antiga escola me desejando boa sorte. Um grupo do WhatssApp de título e conteúdos duvidosos que logo saí sem dar muitas explicações. 

Tive mais sorte no Facebook, Uma mensagem de boa noite de Cybelle, com carinhas e beijinhos e uma de Anna:

"Temos aula de artes de amanhã. Leve tela e aquarelas. Boa Noite"

Isso estava na longa lista de materiais que pediram quando me matriculei na São Tiago, mas sem seu aviso eu muito provavelmete deixiaria ali no fundo do armário. Agradeci e fui me deitar, ovundo a chuva que batia gentilemente na janela do meu quarto. 

Levantei mais cedo do que era necessário, assustada com o sol que entrava pela janela e que  eu não via desde que chegara, Mas até onde sei, o período das chuvas estava no fim, então não deveria me surpreender. Fiquei sentada então, olhando o bordado delicado da colcha que minha mãe comprara antes de vir para cá. Eu tinha dito que só me mudaria se pudesse escolher a decoração e assim ela concordou. Meu novo quarto era menor que o de minha antiga casa, com uma cama grande no canto e móves cor de tabaco que eu mesma escolhi antes de vir. Meu irmão ficara com os móveis brancos de minha antiga casa. Nas paredes, prateleiras com dezenas de ursinhos que eu não brincava mais, mas que eu gosto de usar para decoração, O resto da casa tem uma decoração mais sóbria. Móveis escuros ou de cores neutras que, na minha opinião, copiam a decoração dos escritórios em que minha mãe trabalha. 

Como não estava chovendo, fui andando para a escola, por um outro caminho longo que o que tomei no dia anterior para voltar, reconheci o rapaz que ficara ouvindo música na sala ontem saindo de uma igreja grande e bonita já de uniforme e mochila, mas com uma batina nos braços, e como algumas senhoras também saiam dali, imagino que a Missa terminara a pouco. Acho que ele não me reconheceu, pois passou por mim indiferente, mas o admirei por levantar-se tão cedo para ir a igreja. 

Cheguei ainda com tempo na sala, a segunda a entra na verdade, depois apenas do rapaz da igreja. Como ele chegou tão rápido?

Algum tempo depois começaram a chegar outros alunos, e aos poucos o barulho foi aumentanto a medida que se aproximava o ínicio da aula. Alguns me cumprimentaram, outros não. Alguns se apresentaram. Um rapaz chamado Matheus, uma mocinha baixinha chamada Rita e um cara grandão, de pele escura, que se apresentou como Bill. Ao menos as pessoas que se sentavam ao meu redor eu já sabia o nome. 

A aula logo começou. 1° tempo: Geografia, 2° e 3°: Biologia. 

No intervalo, Anna e Cybelle vieram em minha direção e me chamaram a andar com elas. Fui, pois acompanhada não poderia me perder. Ao descermos um lance de escadas, no refeitório que ficava no 3° andar, encontramos Eric com alguns amigos, que se sentaram com a gente, numa mesa vazia bem no meio do salão. Como era de se esperar, o colégio era tão grande, que minha aparencia desconhecida nems equer foi notada. Exceto pelos amigos de Eric, todos atletas, alguns do time de Basquete e outros como ele, do time de Futebol, que me perguntaram meu nome umas três vezes e ficaram sorrindo como bobos, deixando ele meio sem graça, mas eu gostei, estavam fazendo eu me sentir acolhida. Estavam todos numa conversa animada sobre a feira de ciências que ia acontecr na outra semana. Como eu não fazia ideia de como iria me inserir nesse assunto, me contentei em concordar com algums posições e prestar atenção no que todos estavam fazendo.

Não estava com fome, e mesmo ouvindo que a comida hoje estava estranhamente boa, resolvi ficar quieta, a me deslocar ao outro lado do salão para pegar alguma coisa. Eric e um outro amigo, que pelo me lembrava se chamava João, foram pegar mais um prato, Cybelle foi com eles. E foi Anna que quebrou o silêncio:

- Não sabe o que fazer não é? 
- Na verdade nem sabia disso. Mudar de escola é uma droga.
- Não é complicado.
- Não acho que seja, só não me animei muito, todos já tem seus projetos, e em uma semana eu não vou conseguir muito - suspirei - vale muita coisa?
- Na verdade, 30% da nota de todas as disciplinas - disse ela eficiente.
- Argh, eu to perdida.
- Pode fazer comigo, estou desenvolvendo um projeto sobre o cultivo de plantas com adubo natural. - ela disse isso comos e fosse algo muito emocionante,
- Bom, acho que vai ser o jeito - disse, sem muita convicção.
- Não precisa se não quiser - disse ela orgulhosa. Os meninos voltaram e se sentaram em nossa volta de novo.
- Não, não, quero sim - me desculpei.

A conversa então correu para outro assunto, que os meninos trouxeram junto com as bandejas de comida, e eu liguei o automático novamente pelo resto da manhã. Anna apenas me disse para ir a sua casa naquela tarde e me passou o endereço num papel cor de rosa escrito com uma caligrafia fina e elegante. 

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