quarta-feira, 22 de março de 2023

Golpe fatal

É impressionante, realmente impressionante, que toda vez que eu me sinto mais à vontade, a vida dá um jeito de me jogar pra baixo novamente. Eu não posso vislumbrar um pouco de luz, um pouco de esperança, que logo sou jogado na lama uma vez mais. Eu só consigo ver a luz do sol sumir a medida que afundo cada vez mais na escuridão oceânica e gélida que me enrijece os músculos e os ossos até o tutano e que me perfura a carne como milhares de agulhas ou facas afiadas a me rasgarem as fibras do coração. 

Estou sentando de frente à tela em branco esperando que as palavras me brotem do profundo de minh'alma, mas brotam apenas lágrimas frias que descem lentamente, conforme eu vou pouco a pouco mergulhando nas trevas. 

Tudo gira lentamente, me sinto tonto, como se estivesse bêbado ou chapado. Minhas mãos tremem, talvez por causa do café que tomei mais cedo. O golpe foi tão duro que me deixou desnorteado. 

Ainda ontem comentava com outra alma atormentada sobre essa dificuldade. Mais uma vez eu escuto o ressoar grandioso daquela marcha fúnebre, como se já sentisse o abrir brutal da minha carne pela lança do inimigo que, uma vez mais, zomba de mim. É sempre um golpe rápido e certeiro, como um poderoso martelo. 

Quantas vezes eu falei disso? Quantas vezes eu me machuquei assim? E quantas vezes eu repeti o mesmo erro de me abrir, de me permitir amar, de admirar até que a presença se transforme da bonança em tempestade? Quantas vezes até que eu consiga finalmente erguer uma muralha ao meu redor que me proteja de ser acessado pelos outros, que me impeça de ser visto e que me impeça de ter o peito aberto? 

Há beleza nas marchas fúnebres? Certamente. Mas também há o poderoso toque das trombetas que invoca os mortos todos de seus sepulcros e que nos faz estremecer diante do incerto destino. Ou melhor, do desconhecido destino. No meu caso o destino é certo e conhecido, mas ainda assim a tuba gloriosa me é motivo de horror por saber que me aguarda eternamente viver gemendo e chorando num vale de lágrimas. 

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