terça-feira, 25 de abril de 2023

As pedras falarão

Meus planos para hoje incluíam uma formação litúrgica com o pessoal da paróquia onde começo a me aproximar mas que não vou conseguir ir devido a uma crise alérgica incômoda que se abateu sobre mim logo cedo pela manhã. 

De um lado já continha, desde antes do convite que me foi feito, uma ideia pessimista da liturgia como é feita aqui por essas bandas, mas já me deti sobre isso em outras oportunidades. Em resumo, a ars celebrandi dessa região é completamente avessa a toda piedade real e apenas imita, muito barbaramente, um culto qualquer de teor libertário e disforme, brega na essência musical e desprendido de todo e qualquer simbolismo cristão autêntico, se revelando no completo esvaziamento da Liturgia. 

Mas meu objetivo era conhecer mais pessoas, depois de tantos meses morando aqui meu circulo de amigos é duito reduzido, em partes devido a falta de contato com o outro e pelo jeito naturalmente reservado co catarinense. 

Queria conhecer novas pessoas e sair um pouco da minha bolha tão reduzida porque temo que acabe me fechando demais em mim mesmo. Mas ficará para outra oportunidade. 

Vou descansar, o corpo e o coração, numa longa tarde de sono onde, quem sabe, sonhe com algo poético e me traga de volta o olhar que o cansaço dos últimos dias me tirara, ainda que não totalmente e minha reflexão sobre o Apolo mostra isso. 

O fato é que a fadiga dos últimos dias me deixaram um pouco seco demais, fazendo eco ao verso de Adélia Prado em que diz "Em alguns dias Deus me tira a poesia, vejo pedra e é pedra mesmo."

Em momentos assim me sinto como uma pedra que tenta falar, já que a voz dos profetas se silenciou e poucos são aqueles que orientam o povo numa arte celebrativa verdadeiramente frutífera. O fato é que se eu dizer a qualquer uma dessas que a sua celebração é apenas uma imitação muito diminuída do que poderia ser a Liturgia, elas simplesmente não entenderiam, fariam uma grande confusão e isso apenas reforçaria as crenças que elas já têm: a de que a liturgia deve servir e atrair o povo sendo tanto mais próxima das celebrações seculares, falando assim "a linguagem do povo" mas esquecendo que, se é pela linguagem do povo, o povo pode escolher ouvir a linguagem do próprio povo e não uma imitação. Ao passo que a tradição litúrgica autêntica não contém apenas elementos do povo, mas por isso mesmo consegue fazer com ele tenha maior contato com o Divino, e não com o povo onde ele já está inserido. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário