quarta-feira, 5 de abril de 2023

Visão de Apolo na manhã

Era a escultura de um deus que que se erguia naquele amontoado de corpos suados e tristes. E eu não conseguia parar de olhar para ele, que me aquecia à distancia com aquela presença tão estranhamente divina entre homens. 

Ele segurava o apoio com um braço e o outro se apoiava na alça da mochila. As mãos fechadas forçavam os músculos do braço que saltavam com um vigor notável, os nós dos dedos levemente avermelhados e as veias arroxeadas davam a ideia que ele poderia, a qualquer momento, fazer o a chuva parar de cair e ordenar que os raios solares voltassem apenas com o erguer de um braço. Embora seu corpo fosse de uma altivez apolínea, com o peito marcando forte na camisa preta, seu rosto era suave e, mais uma vez, lembrava o sol mas apenas aquele calor leve que acaricia a face dos amantes deitados no jardim. Era um rosto delicado, lábios levemente rosados e olhos profundamente negros e brilhantes. O cabelo aparado dos lados era liso de um castanho escuro levemente caramelizado, e se mexia levemente com o vento que entrava pela janela. 

Eu fixei meu olhar naquela figura até o último instante, e não conseguia desviar, não conseguia deixar de fitá-lo até imprimir cada traço em minha memória. Desci no meu ponto com o coração em silêncio, só conseguia me lembrar daquela imagem, e pensar em quando poderei vê-lo novamente.

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