quinta-feira, 13 de abril de 2023

Os dias continuam quentes

Achei que finalmente teríamos dias mais frescos com o início do outono, não aguento mais começar a suar antes de sair de casa. O sol ardente e brilhante ao descer do ônibus me faz sentir raiva, eu penso se tem algum sortudo em algum lugar fodendo com o ventilador no talo enquanto eu caminho sentindo a pele envelhecer cinquenta anos em cinco. Toda essa cor me faz na verdade ter preguiça de sair da cama e de conversar. 

Acabei me atrasando, não vi nenhum dos homens bonitos que costumo ver, minha companhia foi o velho Buck falando palavrões em sua crônica de um amor louco. O conto em que ele descreve uma máquina de esmagar culhões, que torna os homens capazes de fazer qualquer coisa ao terem sua vontade esmigalhada, me fez pensar no quanto o cotidiano faz isso com as pessoas. No conto eles reconheciam aqueles que tinham passado pelo procedimento pela falta de cor nos olhos e, embora eu esteja sempre sorrindo, eu vejo que não tenho cor nenhuma nos olhos, muito embora ninguém perceba isso. Acham que eu estou apenas cansado, e talvez seja isso também, mas essa falta de cor é na realidade falta de um visão de futuro. Eu vivo apenas na esperança de cumprir a próxima tarefa, de chegar ao fim do dia e abri uma lata de bebida e ver uma série ou sei lá o que. 

E tem aqueles desejos que eu sufoco dentro de mim, porque sei que eles só vão me causar problemas. Como sonhar com um amor, como sonhar em encontrar companhia, ou sonhar em conseguir administrar o salário até o fim do mês. Acho que hoje meu maior sonho seria dormir até um pouco mais tarde, ouvindo música num quarto menos entulhado que o meu, com o ar condicionado ligado. Nem precisava foder com ninguém. Não sendo incomodado já ficaria bastante grato e, quem sabe, quando levantasse, teria alguma cor nos meus olhos. 

É, eu duvido muito. 

Eu seria muito mais feliz se me incomodasse apenas com o calor e se não fosse mais capaz de amar. Eu não devia ter medo do amor não é mesmo? Mas quando se é rejeitado tantas vezes como eu fui o amor só machuca e maltrata. Até hoje o amor só me deixou doente. O amor é um cão dos infernos e eu acho que vou ficar bêbado hoje de novo. 

E realmente acho que não deveríamos mais falar disso, eu não vou mais falar disso. Eu vou ficar do seu lado e te apoiar, e ser aquilo que você precisa que eu seja. Se eu te amo mesmo é isso que eu devo fazer e não esperar o que me pedem os meus desejos egoístas. 

Fui dormir meio bêbado e completamente desiludido. Queria não acordar ou, se acordasse, que não sentisse mais nada por você mas, infelizmente, quando abri os olhos e puxei o ar fresco da manhã, senti mais do que meu peito se inflar, também senti o meu amor se inflamar novamente. Não fiquei bêbado o bastante, continuo sentindo um nó na garganta, a melancólica constatação de que ele nunca vai me amar.

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