Eis um exercício psicológico: como reagir a uma situação de dessabor. As palavras, graves e diretas, atacam como setas inflamadas. Une-se esta impressão aquela de muito tempo de alguma desavença entre ambos, ainda que nunca tenham trocado mais do que meia duzia de palavras.
O real: uma interpolação direta a uma afirmação cômica.
Aquilo criado por uma mente emocional de extrema afetação: um ataque frontal, algo como uma declaração de guerra velada. Mas ainda passível de mais profundas investigações: a posição corporal e sua expressão facial não diziam isso.
Mas quem sou eu para investigar isso e dizer o que significa sua expressão facial ou corporal? Eu tenho apenas aquilo que me foi dito, nada mais.
Tenho a especulação de uma conversa que ouvi, a qual em nada me diz respeito, excepto pelo fato de que, sendo verdade, talvez seu humor estivesse alterado e, com isso, ele que sempre ignorou minha presença acabou escapando daquela aparência abatida e, por um instante, resolveu atacar um alvo aparente e obviamente mais fraco.
Mas, repetindo, eu tenho apenas o que me foi dito, e o mais que a minha distorcida cria não vale nada. É apenas um reflexo de uma personalidade carente que idealiza: o homem mais bonito sendo o mais próximo de mim. Uma doce mentira.
O ASCÉTICO
E tá tudo bem, irmão.
Aceitei que sou solteiro,
Por escolha, não por azar
Ele não me chamou atenção de imediato. Ou chamou e eu não quero aceitar essa verdade boba, porém humilhante? Não, a verdade é que ele não é particularmente lindo. Bonito sim. Quando conversamos, vi que tem algo de bem-humorado, combinando a um semblante entre o sério e o descontraído, germânico diria, mas sem aquela altivez arrogante, foi como se nós, ele, eu e os outros, pudéssemos ficar um bom tempo ali falando qualquer coisa. Mas, como dizia o poema logo acima de autor desconhecido
que um homem alto e loiro
jamais olharia para mim
Assim como a métrica da poesia pode determinar sua força
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