sábado, 5 de abril de 2025

Paixões e Vontade

Tentei buscar algo a dizer, mas só consigo sentir o vento, finalmente, frio do outono na minha pele, e pensar no quanto isso me faz querer dormir, dormir sem hora para acordar. Bom mesmo seria nem mesmo acordar. 

Falava com um amigo das nossas paixões, de como sempre nos apaixonamos por pessoas que jamais olhariam para nós. Do meu lado eu entendo, não sou do tipo que agrada os outros, feio, chato e gordo. Mas ele é diferente, e também está só.

Por isso me convenço de que a solidão é o destino dos homens, porém poucos estão conscientes disso. Aquele homem loiro nem se deu conta da minha presença. Passei por todos os outros como se fosse invisível, mas não sou, o corre corre continua, passamos uns pelos outros assim, e nada muda. É como se invisível, e eu queria ser de verdade. É melhor do que saber que estou aqui, mas que agem como se não fosse digno sequer de seus olhares de desprezo. Porque isso é tudo que tenho, o olhar que dão aos indigentes e ao incômodos da sociedade. Estamos nela, mas é como se nem sequer existíssemos. 

Estou sentado no chão, no escuro, mais uma vez ouvindo Kim Sung Kyu, tenho essa preferência por músicas românticas. Ainda que não viva um romance, tem algo de confortável aqui, no escuro, ouvindo uma bela voz. 

Tinha planejado assistir até de madrugada, mas perdi a vontade. Tem sido muito assim ultimamente. Vontade. Estou sempre em luta com ela. Às vezes ela quer o que não pode, outras vezes, mesmo podendo, não quero. Sendo então uma potência movida pelo intelecto, constantemente preciso decidir o que é melhor para mim, mas admito que venho falhado muito, pois continuo, a cada dia, abusando das drogas para dormir, e dormindo cada vez menos, e sendo obrigado e ver cada vez mais dessa realidade que eu não quero ver. 

Eu não quero me levantar da cama todas as manhãs e me ver numa casa apertada, sem ninguém ao meu lado, e ficar ali, sentado olhando a construção infindável do outro lado da rua, me arrumar para pegar um ônibus cheio e viver um dia infernal de cada vez.

Eu não desejo algo longe disso. Outra vida completamente diferente. Mas desejo um beijo de bom dia, duas canecas fumegantes de café, ao chegar, sorrisos, um filme ou simplesmente um abraço apertado e confortável, deitados ali, recarregando as forças... Bem, aqui eu já me perco em devaneios...  

[...] E agora estou sozinho no mundo,
Sobre o vasto, vasto mar;
Mas por que eu deveria gemer pelos outros,
Quando ninguém suspirará por mim?
Talvez meu cachorro choramingue em vão
Até ser alimentado por mãos estranhas;

(Lord Byron)

Nenhum comentário:

Postar um comentário