segunda-feira, 12 de maio de 2025

Andante Moderato

Não me surpreende, não mesmo. Eu sempre soube que era assim. Que a minha importância nunca passou de uma conveniência. E logo depois eu posso ser descartado. Como se nada, e nada realmente é. A vida é emprestado estado, e parece que o amor e a amizade também são. Será que ao dizer que "tudo passa" Heráclito se referia a isso também? É um engano, tenho certeza que o filósofo não tinha em mente os problemas banais aos quais eu me refiro, muito embora, se a transitoriedade do ser tenha em si uma carga de importância vital para ele, a transitoriedade das relações humanas tem para mim, o que acredito ser mais um reflexo da minha imaturidade. 

Queria ter virado a noite assistindo, tinha me preparado para isso até. Mas acabei ficando chateado com uma besteira e preferi ir dormir. É sempre assim não é? Dormir é mais fácil. Mas nem era uma surpresa, antes disso, eu já sabia bem qual era a verdade, mas vê-la diante de mim ainda foi, não um choque, mas um incômodo. 

Estou ouvindo a Sinfonia N° 2 de Mahler, nesse momento o 2° movimento, um Andante Moderato, e me identifico com esse andamento, talvez essa seja a velocidade do meu pensamento nesse momento. 

Mas, de volta a Heráclito, talvez o que ele observou no cosmos, eu observo nas relações, e aí sim afirmo que, entre as pessoas, tudo passa. De repente, por exemplo, numa madrugada fresca de vento seco a soprar, eu escuto Tim Bernardes, música de outros tempos para mim, lembranças de risos, colos, afagos. Tempos que passaram. Olhares que ignoro, risos que ficaram na memória, colos e afagos que não voltam mais. Mas o cantor mesmo disse: "A dor do fim vem para purificar, recomeçar..."

Já faz alguns anos, mas ainda me encanto, e continuo repetindo as mesmas palavras, com a delicadeza de Until We Meet Again. Agora, revendo pela quarta ou quinta vez, eu percebo com mais atenção os olhares, aqueles olhares que tanto esperaram para se reencontrar. Os toques delicados, os dedos que se aproximam, depois se entrelaçam, depois se colocam ao redor do pescoço e do torso na aproximação de um beijo delicado. O tempo também tem uma importância crucial aqui, pois a história que vemos é a continuação daquela interrompida de modo abrupto trinta anos atrás. Eles se reencontram, e sentem que já se conhecem, mas sem entender, só sabendo que não podem mais viver um sem o outro, e de repente o tempo toma outro significado: nenhum tempo pode passar sem que fiquem juntos, porque antes morreram e não viveram seu amor, e agora esse amor precisa viver, precisa ter, finalmente seu tempo. 

Uma vez ele passou, de um jeito triste, mas agora precisa passar, mas passar de mãos dadas.

Tudo passa, mas isso não significa que passar seja algo ruim. Mesmo não tendo vivido isso ainda, acho que algo em mim quer continuar acreditando nisso.

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